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Bienal anuncia selecionados para Veneza



 

Em Veneza se realiza a "mãe das bienais"

26ª edição da mostra de São Paulo teve público recorde de 917.218, mas não atingiu meta de 1 milhão

ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

   Um artista e um coletivo participantes da 26ª Bienal Internacional de São Paulo representarão o Brasil na 51ª Bienal de Veneza no próximo ano. O grupo Chelpa Ferro, que na bienal brasileira mostrou uma instalação sonora feita de galhos de árvores e pequenos ventiladores; e o artista paulista Caio Reisewitz, que expôs "Paúba" -fotografias de céu e mar que lembram pinturas-, foram os selecionados pelo curador Alfons Hug para participar da "mãe das bienais", que acontece entre 12 de junho e 6 de novembro de 2005.

   Para a 11ª Trienal de Nova Déli, na Índia, de janeiro a fevereiro de 2005, foram selecionados o mineiro Thiago Rocha Pitta, que apresenta a obra "Homenagem a William Turner"; e o paranaense Laércio Redondo, que mostra o vídeo "I Don't Love You Anymore". A curadoria foi feita pela Fundação Bienal de São Paulo.

   De acordo com o presidente da fundação, Manoel Francisco Pires da Costa, os selecionados têm características semelhantes aos da mostra brasileira: atuam no campo da arte contemporânea e não são ainda consagrados.

   Os anúncios foram feitos ontem, durante a divulgação do balanço geral da 26ª edição da mostra internacional. O número recorde de visitantes -917.218 em 86 dias de mostra- não chegou à meta de público de 1 milhão estabelecida pela organização. Mesmo assim, o presidente da fundação declarou que a Bienal teve uma "quantidade excepcional de público". "O número é muito significativo, cumpriu o que considero fundamental", disse.

   Costa apresentou ainda pesquisa feita pelo Instituto Datafolha entre os dias 22 de novembro e 5 de dezembro sobre o perfil do público da Bienal. Entre os itens, os mais destacados pelo presidente foram os que afirmam que 50% dos visitantes da mostra nunca tinham ido a uma Bienal e o que diz que 54% do público foi formado por mulheres. Ele atribuiu os números à gratuidade do evento. "Isso prova que o nosso caminho é o correto. É a mulher que tem o respeito positivo sobre o orçamento familiar", justificou.

   Costa falou dos parâmetros que guiaram a mostra. Em primeiro lugar, citou a escolha predominante por artistas contemporâneos. "Quando surgiu, a Bienal tinha também a função de trazer grandes artistas. No Brasil, quase não tínhamos museus.

   Hoje, surgiram muitas instituições interessantes que ocupam essa função", disse, justificando a extinção do núcleo histórico. "O nosso objetivo é descobrir artistas novos e bons", completou.

   O presidente defendeu ainda a manutenção de Alfons Hug, também curador da 25ª edição da mostra, para a Bienal deste ano por seu "conhecimento profundo dos artistas brasileiros", mas disse que, em 2006, deve optar por mais de um curador.

   Não mencionou nomes, no entanto. "Já existem hipóteses, mas não há nada de concreto ainda."

   O curador Alfons Hug fez seu próprio "balanço artístico". Disse que a mostra "ofereceu grandes momentos de reflexão" e que pode perceber que "o público chegou a um estado quase espiritual" quando observava as obras.

   O pavilhão da Bienal foi considerado por Hug como o "ponto de partida para a montagem". "A maioria dos artistas propôs trabalhos depois de conhecer o prédio e a cidade. O prédio da Bienal, um ícone da arquitetura moderna, com a extensão de quatro campos de futebol, foi um dos melhores pré-requisitos que nós tínhamos; muito belo e apto para a montagem da exposição", completou.

   Durante o balanço, foi anunciado ainda o calendário e a programação da Bienal Itinerante, que leva artistas e trabalhos expostos em São Paulo para outras cidades. As mostras acontecem de março a maio em Lima, no Peru; de março a junho em Santiago, no Chile; de abril a maio em Buenos Aires, na Argentina; e de fevereiro a março em Salvador, na Bahia.

(© Folha de S. Paulo)


Críticos sugerem nova montagem, curadoria e espaço

DA REPORTAGEM LOCAL

   Um novo espaço e um novo tipo de curadoria e de montagem são as sugestões de alguns críticos e curadores de arte ouvidos pela Folha para a próxima Bienal Internacional de São Paulo.

   Para o escritor e ensaísta José Teixeira Coelho, a 27ª Bienal deveria sair do pavilhão Ciccillo Matarazzo, no parque Ibirapuera. "Esse prédio é mais forte do que qualquer outro projeto. Está na hora de a Bienal procurar uma nova situação. Talvez até alguma coisa diferente, não necessariamente um prédio", afirma.

   Teixeira Coelho diz que não acredita mais na capacidade dos designers de "vencer" a estrutura do pavilhão. "O prédio vence todas as montagens, porque não foi feito para receber obras de arte. Até hoje ele venceu todos os confrontos."

   Já o crítico e curador Ivo Mesquita fala na criação de um "partido curatorial", que gere uma nova leitura para a disposição dos trabalhos. "Não dá para organizar as obras por suportes, fotografia, vídeo, cada um por um setor", explica. "[A exposição] Precisa de um ponto de vista conceitual e crítico que oriente uma leitura dos trabalhos. Não basta apenas trazer as obras, é preciso ter um pensamento sobre elas que organize a mostra."

   Mesquita cita conquistas da última Bienal; uma exposição menor no número de países para ele é uma das vantagens. "Os trabalhos do segundo e do terceiro andar estavam muito bem colocados, com espaço e com respeito. Dava para vê-los individualmente", justifica o curador, que aprova ainda a extinção do núcleo histórico da mostra. "Nunca uma Bienal é perdida, sempre há ganhos", completou.

   Para Agnaldo Farias, a principal mudança deve ser o tipo de montagem. "Essa é uma Bienal muito sem graça. A mais fraca depois da de 1991. Por causa da montagem, ela é péssima." (IML)

(© Folha de S. Paulo)

Para saber mais sobre este assunto (arquivo ItaliaOggi):

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