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Fiat exige que GM compre sua unidade de carros

12/12/04

 

Sergio Marchionne

Negociação estava implícita em contrato firmado pelas montadoras

Danny Hakim*
Em Detroit

   Sergio Marchionne, novo diretor executivo do Grupo Fiat, disse nesta quinta-feira (09/12) que a empresa defenderá vigorosamente seu direito de vender sua divisão de automóveis para a General Motors. A GM disse que vai contestar na Justiça, se necessário for.

   A Fiat conquistou esse direito quando firmou uma ampla parceria com a GM, em 2000. No entanto, a divisão de automóveis da Fiat deve cerca de US$ 10 bilhões (em torno de R$ 30 bilhões), e a GM tem suas próprias dificuldades. Assim, a perspectiva de compra é motivo de preocupação para a administração da GM e Wall Street.

   Marchionne, que assumiu a diretoria da Fiat em junho, disse que sua empresa aceitou a parceria com o entendimento de que poderia ser um primeiro passo para uma fusão de sua divisão automotiva com a GM.

   "Na época em que a Fiat assinou todos esses documentos, havia uma noção muito clara de que um resultado possível e provável seria uma fusão do setor de automóveis com a General Motors", disse Marchionne em uma entrevista por telefone da sede da Fiat em Turin, na Itália. "Não podemos mudar isso agora, só porque os mercados mudaram e as economias não estão indo tão bem quanto se esperava."

   A rara entrevista sobre a situação ocorreu a menos de uma semana da data marcada para sua reunião com o diretor da GM, Rick Wagoner.

   Uma grande parte do acordo entre as duas empresas, no qual Wagoner teve um importante papel, era que a Fiat teria a opção de vender sua divisão de automóveis para a GM. Essa opção de venda ("put option") entra em vigor no dia 24 de janeiro e dura uma década. Na época, a GM via a Fiat como um ícone italiano venerável e queria afastar outros pretendentes.

   Na próxima terça-feira (14/12), Marchionne deve se reunir com Wagoner, na Europa, para discutir a situação. No dia seguinte, expira uma moratória de um ano de ações legais entre as duas empresas. Os dois homens já se reuniram antes, mas Marchionne disse que não houve avanços.

   "Não acho que haja má vontade, mas não houve resolução das questões", disse ele. "São pessoas legais, mas, para ser totalmente franco, estão em situação difícil."

   "Nosso objetivo em tudo isso é assegurar o melhor para o setor de automóveis e dar o valor mais alto possível para os acionistas da Fiat", acrescentou.

   A maior parte dos analistas acredita que a questão ficará amarrada nos tribunais durante anos, ou que algum tipo de acordo será firmado. No entanto, Marchionne, que assumiu o cargo em junho, insistiu na quinta-feira que há grande possibilidade de a Fiat forçar a GM a comprar sua divisão de automóveis.

   "A Fiat vai avaliar suas opções em termos de negócios e progresso, incluindo a possibilidade real da opção de venda", disse ele. Referindo-se a possíveis recursos da GM, ele disse: "Vamos nos defender, e estou confiante."

   Toni Simonetti, porta-voz da GM, disse que a opção de venda foi anulada quando a Fiat capitalizou seu setor automobilístico em 2002, vendendo alguns bens financeiros.

   "Discordamos", disse ela. "Afirmamos para eles em nossos documentos que acreditamos que algumas de suas medidas públicas podem ter invalidado o acordo geral, com o resultado da perda da opção de venda".

   O acordo fechado entre a Fiat e a GM envolvia uma ampla parceria industrial de produção e desenvolvimento de veículos em conjunto. Marchionne disse que o acordo proibia a divisão automotiva da Fiat de se associar com outras empresas, e que conquistar o direito de vender o negócio para a GM, a maior fabricante de automóveis do mundo, foi uma importante razão para a empresa concordar com tal acordo.

   "Essas duas coisas estão inextricavelmente conectadas, ou seja, a resolução da aliança industrial e a opção de venda", disse ele. Se a empresa não exercitar a opção de venda, ela precisa de maior flexibilidade para buscar novas parcerias, disse ele. "O problema com a parceria com a GM é que eles são restritivos", disse ele, "precisamos da nossa liberdade estratégica de volta."

   No entanto, ele também disse: "Podíamos alcançar os objetivos de aliança industrial exercitando a opção de venda. Isso colocaria a Fiat Auto no ambiente industrial correto."

   Sobre como o governo italiano reagiria à venda forçada da Fiat Auto para uma parceira americana, Marchionne disse: "Não sei como o governo italiano reagiria. Não perguntamos a eles."

GM em apuros

   Alguns analistas não acham que a GM, em dificuldades em uma série de frentes, conseguiria assumir a Fiat. Nos EUA, a GM foi enfraquecida pelos custos crescentes com a saúde e continua perdendo sua fatia do mercado, apesar de grandes descontos e outros incentivos.

   Na Europa, as perdas da GM aumentaram para quase US$ 400 milhões (em torno de R$ 1,2 bilhão) nos três primeiros trimestres de 2004, de US$ 220 milhões (aproximadamente R$ 660 milhões) no mesmo período em 2003. A empresa, cuja maior marca européia é a Opel, com base na Alemanha, quer cortar 12.000 funcionários de sua força de trabalho de 63.000.

   A Fiat, que é controlada pela família Agnelli, não dá lucros desde 2001, em grande parte por causa de problemas com suas operações automotivas. O valor da empresa não está claro. Sob os termos do acordo, ele seria determinado por um grupo de bancos de investimento.

   "A empresa, neste momento, provavelmente vale menos do que os 8 bilhões de euros (em torno de R$ 32 bilhões) de dívidas que carrega", disse Darren Kimball, analista da Lehman Brothers, em um relatório recente.

   Marchionne iniciou um plano de revitalização e disse que a divisão daria lucro novamente, em base operacional, em 2006.

   "Acho que estabelecemos um plano que trará progresso", disse ele.

   Questionado sobre o que faria se estivesse no lugar da GM, Marchionne disse: "Tenho muito respeito por Wagoner e Devine", referindo-se a John Devine, diretor financeiro da GM. "São realmente muito bons. Acho que estão em uma situação difícil", disse ele, acrescentando: "Eles farão o que é melhor para a GM". (*Colaborou Andrew Ross Sorkin.   Tradução: Deborah Weinberg)

(© The New York Times)

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