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Os nomes da rosa

12/12/04

 

Umberto Eco

Livro de luxo coordenado pelo italiano Umberto Eco mapeia as mudanças nos conceitos de beleza ao longo da história

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

   "Algo de belo é uma alegria para sempre", escreveu um poeta britânico há quase 200 anos.

   Pois acaba de chegar às prateleiras nacionais um livro que praticamente vira a (bela) frase de John Keats de ponta-cabeça.

   "História da Beleza", luxuoso volume com a grife Umberto Eco, que a editora Record lança no Brasil, toma como um mote silencioso a idéia de que o belo é sempre algo diferente.

   Passando ao largo dos subjetivismos à "quem ama o feio bonito lhe parece", Eco, 72, tenta documentar como o conceito de beleza se metamorfoseou ao longo de uns 3.000 anos de história ocidental. O "tour de force" pega o leitor diante de uma fotografia de uma escultura grega de uma mulher do século 2 a.C, na página 9, para deixá-lo com uma Kate Moss seminua clicada em 1994 por Herb Ritts para o Calendário Pirelli, no cantinho direito da página 428.

   No meio deste caminho, entre Mona Lisas e "demoiselles" desfiguradas de Picasso, Eco debate questões básicas estéticas e polvilha centenas de citações, de Platão a Eric Hobsbawm, editadas como se fossem hipertextos.

   Se em um trecho, por exemplo, o intelectual italiano afirma "Exemplo típico do sublime dinâmico é a visão de uma tempestade", a palavra tempestade é destacada.

   Tanto esse recurso quanto a opulência de imagens -só até a página 35 estão reproduzidas 300 imagens- tem o mesmo ponto de partida. O projeto não nasceu como livro. A obra deriva de um CD-ROM, coordenado por Eco e lançado na Itália em 2002 com o título "Beleza, História de uma Idéia do Ocidente". O mesmo espaço da página 2 do livro que traz discretamente essa informação esclarece outro mistério do livro. É aparente a irregularidade (ou ao menos a não homogeneidade) dos 17 capítulos da obra.

   As letras miúdas contam o porquê. Alguns textos foram escritos por Eco, ele mesmo. Oito capítulos, porém, são de autoria de Girolamo de Michele, professor da mesma Universidade de Bologna onde leciona o autor de "Apocalípticos e Integrados".

   É justamente nesta jugular que voaram alguns caninos afiados. Uma crítica do jornal inglês "The Independent" diz que o nome de "um tal Girolamo de Michele" só aparece em letrinhas miúdas (a estratégia não foi da editora brasileira -que colaborou com outras pequenas falhas, como a atribuição da estranha data "XXX milênio a.C." à célebre escultura Vênus de Willendorf). "Este é o nível de reconhecimento que ele merece, ainda que tenha sido responsável pela discussão de muitos dos períodos-chave, a Antigüidade, a Renascença, o Iluminismo e o Romantismo."

   Dois dos destaques do livro, por sinal, são capítulos que não esses. De grande erudição global, e em particular um fuçador compulsivo de documentos medievais, Eco desfaz com muita elegância o eterno lugar-comum da Idade Média como tempo de trevas absolutas -textos "iluminados" por amostras de cores vivíssimas de desenhos da época.

   Se não ganha pela novidade ou pela profundidade, a clareza na análise da estética do século 20 como oposição de uma "beleza da provocação" modernista e da "beleza de consumo" da indústria cultural também passa bem.

   Mas a festa é mesmo das imagens, muito bem diagramadas e impressas na Itália. São as "rosas", seja lá batizadas com que nomes, que garantem ao volume alguma "alegria para sempre".

HISTÓRIA DA BELEZA. Organização: Umberto Eco (com Girolamo de Michele). Tradução: Eliana Aguiar. Editora: Record. Quanto: R$ 150 (440 págs.).

(© Folha de S. Paulo)

Para saber mais sobre este assunto (arquivo ItaliaOggi):

ital_rosasuper.gif (105 bytes)
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