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Da Vinci sem códigos

29/11/04
 

 

Edição de luxo, em português, agrupa as pinturas de Leonardo

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

   Existe uma manchinha minúscula nas costas da mão direita da senhora "Mona Lisa". Uma pinta ainda menor está ali, quietinha, no lado esquerdo de seu mundialmente enigmático sorriso.
Cristo também não terá mais qualquer vestígio de sossego em sua "Última Ceia". Vai ter gente implicando com marquinhas no seu colo, com um fio despenteado no alto de sua cabeça.

   As obras-primas (e mesmo as menos primas) de Leonardo da Vinci estão em apuros. No ano em que o sobrenome do artista apareceu estampado em fundo vermelho no topo das listas de livros mais vendidos de todo o país, com a ficção "O Código Da Vinci", do americano Dan Brown, suas criações voltam às livrarias (poucas) de um modo que nem o próprio artista pôde enxergá-las.

   "Leonardo da Vinci - Obra Completa de Pintura e Desenho" reúne cada uma das 34 pinturas hoje conhecidas do artista da cidadezinha de Vinci e reproduções de 663 de seus desenhos com ampliações até dez vezes maiores do que seus originais.

   Esta visita ao Louvre com um telescópio é obra da editora alemã Taschen, maior empresa do mundo de livros de arte, que fez mais uma vez um volume que não economiza em nenhum sentido. Com medidas que chegam a mais de meio metro de altura e a quase dez quilos, este "anti-pocket book" organizado pelo pesquisador alemão Franz Zöllner esbanja aqui nos Trópicos também no tamanho dos cifrões.

   Com seu preço de tabela nacional de R$ 980, a versão deste Da Vinci de gala concorre sem muitos competidores ao título de livro mais caro disponível no Brasil em língua portuguesa.

   A versão não é privilégio dos brasileiros. A edição deste "códice" Da Vinci foi toda feita em Portugal, onde o livro já estava disponível há alguns meses. Ainda que com os lusitanismos do antigo colonizador, não é "facto" que mais conta no trabalho davinciano.

   A reunião pioneira de quase (os desenhos são muito mais vastos do que a editora pôde imprimir, ultrapassando o milhar de rabiscos) todas as imagens que se pode ajuntar do trabalho do gênio do Renascimento, nascido em 1452 e morto em 1519, e a impressão e edição primorosas do volume são os motivos dos elogios que o catatau vem colecionando em cada país que foi lançado, desde a edição original, em 2003.

   O projeto de babelização do livro vai longe. Leonardo da Vinci não terá paz nem em terras distantes como a de Franz Kafka. Está para sair do forno "Da Vinci" completo em tcheco.

(© Folha de S. Paulo)


A anatomia de Leonardo

"Raio-x" de artista florentino inclui centenas de desenhos inéditos

DA REPORTAGEM LOCAL

   Um dos primeiros grandes fuçadores da anatomia da história, Leonardo da Vinci também enfrenta uma espécie de raio-x em "Leonardo da Vinci - Obra Completa de Pintura e Desenho".
A radiografia da chamada "vida e obra" é dividida em três etapas.

   O striptease do artista florentino começa de maneira panorâmica. O primeiro segmento do volume da Taschen reúne um perfil cronológico da carreira artística de Da Vinci tomando como base documentos da época.

   Cartas, contratos, anotações e diários, mais do que as toneladas de publicações analíticas póstumas sobre o artista, guiam o ensaio assinado pelo organizador do trabalho.

   Franz Zöllner privilegia os grandes projetos nos quais o artista esteve enfiado, não as obras que o tornaram mais famoso. Assim, seus estudos para um monumento eqüestre ao nobre Francesco Scorza que nem chegou a ser concluído ganham mais espaço do que algumas de suas pinturas mais famosas -Da Vinci chegou a elaborar uma "maquete" de sete metros em argila do tal cavaleiro empinando um cavalo, posteriormente destruída por arqueiros que nela treinavam sua mira.

   A segunda seção de "Da Vinci" funciona como um "catálogo raisonné" da pintura do artista, cientista e pensador florentino. As suas 34 pinturas hoje conhecidas são apresentadas uma a uma com informações caudalosas sobre elas: quando foram atribuídas a Leonardo, quem escreveu os artigos mais importantes sobre cada obra, quais deslocamentos a pintura teve até chegar a sua presente coleção etc.

   Para muitos especialistas, mas não para a grande massa, é a terceira parte do catatau a de maior importância. No segmento "A Obra Gráfica", que compreende mais de 400 das quase 700 páginas do livro, estão 16 pequenos ensaios sobre matrizes da produção de desenhos leonardianos.

   Grafismos anatômicos (de onde são tirados os que ilustram esta página), estudos de proporções (onde está o clássico "O Homem de Vitrúvio", que você certamente já topou por aí -aquele homem carrancudo com duas posições de pernas e de braços ao mesmo tempo, envolvido por um círculo), estudos de plantas, de arquitetura e os impagáveis "estudos de máquinas voadoras e vôos de pássaro" são alguns dos tópicos, nos quais estão diluídas as principais "pepitas" da obra.

   A grande benfeitora deste segmento do livro é a sra. rainha da Inglaterra. Praticamente metade dos 663 desenhos impressos em "Leonardo da Vinci" fazem parte da coleção particular do Castelo de Windsor e são reproduzidos pela primeira vez.

   Uma alentada bibliografia, um índice onomástico não tão alentado assim e outras tabelas técnicas completam o banquete.

   Como o preço é também banqueteiro, vale lembrar outras saídas aos "davincizófilos" um pouco menos abastados. Livrarias virtuais como Barnes and Noble (www.barnesandnoble.com) e Amazon (www.amazon.com) fazem entregas de edições em inglês do mesmo livro por quase a metade do preço.]

   Outra alternativa, aí sim para bolsos bem mais curtos, é o volume da série Basic Art editado pelo mesmo Franz Zöllner para a mesma Taschen. Se o "códice" Da Vinci custa R$ 980, esta versão mini sai por R$ 38,90. (CASSIANO ELEK MACHADO)

LEONARDO DA VINCI - OBRA COMPLETA DE PINTURA E DESENHO. Autor: Franz Zöllner. Editora: Taschen (informações no Brasil com a distribuidora Paisagem: tel. 0/xx/11/ 3045-2133). Quanto: R$ 980 (695 págs.).

(© Folha de S. Paulo)


Italiano tira cetro "pop" de xará DiCaprio

DA REPORTAGEM LOCAL

   Até o início de 2003, o Leonardo mais pop do planeta vinha sendo o tal do DiCaprio. Em março, um livro começou a mudar a sina dos Leonardos. Com o sucesso repentino de "Código Da Vinci", do americano Dan Brown, o já há séculos icônico artista de Florença passou a (re)conquistar uma divulgação poucas vezes vista.

   Em menos de um ano, o "thriller" que usa obras de Da Vinci como pano de fundo já vendeu mais de 10 milhões de exemplares no mundo todo e está a passadas largas dos concorrentes nas vendagens também no Brasil (no levantamento da Folha, com oito redes de livrarias, foram mais de 10 mil os "Códigos" vendidos só nesta semana).

   No rastro do livro, uma proliferação de títulos davincianos invadiram o mercado, muitos deles também na lista: "Revelando", "Quebrando", "Desmascarando", "Decifrando", todos esses gerúndios seguidos do termo "O Código Da Vinci" são acompanhados por títulos como "Os Segredos do Código", "A Fraude do Código Da Vinci", entre outros.

   Volumes mais sérios sobre o artista, como "Leonardo - Arte e Ciências/As Máquinas" também deram as caras. E a febre ainda vai longe. (CEM)

(© Folha de S. Paulo)


OBRAS

1469-1480
O pai de Da Vinci, Piero, vê o filho de 17 anos fazendo desenhos em casa e resolve mostrá-los a um artista, Andrea del Verocchio. Este recomenda que ele estude arte imediatamente. Pouco depois, já fazia obras à "Retrato de Ginevra de" Benici".

1480-1482
Assina seus primeiros contratos individuais e, sem o amparo da oficina de Andrea del Verocchio, faz, em Florença, trabalhos como o incompleto "Adoração dos Magos" e um "São Jerônimo" que evidencia a originalidade do jovem Leonardo.

1506-1510
A monumental e inacabada "Virgem e Menino com Santa Ana", hoje no Louvre, é o tema central deste "capítulo" do livro. No período, Leonardo trabalha ainda como arquiteto (elabora redes de irrigação) e volta a morar em Milão.

1483-1484
Muda-se para Milão e lá faz uma de suas primeiras obras-primas. "A Virgem dos Rochedos" entra para a história por ser das primeiras grandes pinturas realizadas para ornamentar uma igreja que é logo tirada de seu contexto religioso.

1485-1494
Lança-se em projeto ambicioso, a maior estátua eqüestre de seu tempo. Documentos da época afirmam que ele fez um estudo em barro de sete metros de altura, depois destruído. Pinta também a obra-prima "O Arminho Como Símbolo de Pureza".

1494-1495
Curto período no qual Leonardo esteve mais diretamente envolvido com estudos científicos e mais especificamente anatômicos, prática iniciada em 1489, pouco antes de fazer seu desenho "técnico" mais reproduzido até hoje, o chamado "O Homem de Vitrúvio".

1495-1499
Leonardo realiza uma de suas duas obras mais conhecidas, a têmpera "Última Ceia" (1495-1497), tema de dezenas de páginas do livro. O período é encerrado com a queda de Ludovico Sforza, patrono do artista até então.

1500-1503
Período no qual volta a Florença, trabalha, entre outras funções, como engenheiro militar e inicia a obra de arte mais conhecida da história, "Retrato de Lisa del Giocondo", mais conhecida como "Mona Lisa" ou "Gioconda", que terminaria em 1506.

1510-1519
No gomo final de sua vida, Leonardo dedica-se cada vez menos à pintura. Trabalha incansavelmente com desenho anatômico e volta a projetar uma grande estátua eqüestre (também não concluída). Faz como um dos últimos óleos "S. João Batista", concluído em 1516.

(© Folha de S. Paulo)

Para saber mais sobre este assunto (arquivo ItaliaOggi):

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