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LEONARDO
Segundo o best-seller americano, o pintor renascentista
pertencia a uma ordem secreta que existiria até hoje
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Sucesso de O Código Da
Vinci abre espaço para uma onda de lançamentos que explicam o livro e
temas como Opus Dei e Santo Graal
FEDERICO
MENGOZZI
O
sorriso discreto da Mona Lisa? Muito mais. Os editores de O Código Da
Vinci, megassucesso do americano Dan Brown, estão rindo de orelha a
orelha. Marcos da Veiga Pereira, um dos sócios da editora Sextante,
responsável pelo lançamento no Brasil da trama que mistura arte,
religião e polêmica, garante que ainda neste mês o romance alcançará a
marca de 400 mil exemplares vendidos. E pretende chegar aos 800 mil. No
embalo do best-seller, a editora lançou Anjos e Demônios,
terceiro livro de Brown, e colocou 160 mil exemplares no mercado - até o
Natal, haverá mais 100 mil. No livro, surge o protagonista do Código,
Robert Langdon, professor de Simbologia de Harvard. 'Graças a Deus
ouvimos meu pai', revela Marcos Pereira. O pai, o editor Geraldo Jordão
Pereira, é um dos sócios da Sextante e foi quem solicitou os originais,
leu-os e recomendou a compra do título - tudo isso quando o livro ainda
não era um fenômeno. Com vivência editorial invejável, filho do editor
José Olympio, Geraldo Jordão viu que havia ali todos os elementos para o
sucesso.
Sucesso grande e polêmico, pois, entre outras questões, coloca em xeque
a divindade de Cristo. O 'efeito Da Vinci' foi tão intenso que motivou o
lançamento de vários livros para explicar os temas abordados no romance
- cavaleiros templários, dinastia dos merovíngios, evangelhos apócrifos,
Opus Dei, Priorado de Sião, Santo Graal. O livro impulsionou também o
lançamento de títulos cujo tema é Leonardo da Vinci, que encarnou à
perfeição o homem renascentista. Leonardo - Arte e Ciência/As
Máquinas (Globo) enfoca o artista que pintou Mona Lisa, mas
sobretudo o cérebro privilegiado que, movido por uma curiosidade sem
limites, tudo queria saber. Anotações de Da Vinci por Ele Mesmo
(Madras) traz reflexões tiradas dos milhares de páginas manuscritas
deixadas pelo artista, enfatizando a ciência e a tecnologia. Leonardo
da Vinci e Seu Supercérebro, de Michael Cox (Cia. das Letras),
apresenta o gênio para crianças e jovens, na forma de história em
quadrinhos, enquanto Leonardo da Vinci - A Alma de um Gênio, de
Marislei Espíndula Brasileiro (Lúmen), é uma biografia romanceada. Pena
que O Romance de Leonardo da Vinci, excepcional livro histórico do russo
Dmitri Merejkovski, editado pela antiga Globo, continue longe das
livrarias. Vale procurar num sebo.
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CASAMENTO
O Código Da Vinci suscita polêmica, nega a divindade de
Jesus Cristo e afirma que Maria Madalena (à esq., na Última
Ceia, a figura imberbe ao lado de Cristo, e ao lado, em
pintura de Gian Girolamo Savoldo) foi sua mulher e também mãe de
seus filhos
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A
própria Sextante, constatando que os livros com explicações (ou
críticas) para as teses do Código eram muito procurados, lançou
Os Segredos do Código. 'Não me lembro de um romance que tenha
gerado tantos livros explicativos', diz Marcos Pereira. Os Segredos
procuram situar, por meio da análise de diversos autores, o que é fato e
o que é ficção no romance de Brown. São 12 textos sobre Maria Madalena,
um dos pontos focais da trama. Decifrando O Código Da Vinci, de
Simon Cox (Bertrand Brasil); Decodificando Da Vinci, de Amy
Welborn (Cultrix); Quebrando O Código Da Vinci, de Darrel L. Bock
(Novo Século); e Revelando O Código Da Vinci, de Martin Lunn
(Madras), funcionam como manuais que elucidam seus temas - mas tecem
críticas ao original. Já Desmascarando O Código Da Vinci, de
James L. Garlow e Peter Joners (A.D. Santos), e A Fraude do Código Da
Vinci, de Erwin Lutzer (Vida), abrem fogo e acusam o autor de querer
abalar os princípios do cristianismo. Por menos, parecem sugerir, os
aiatolás condenaram o escritor Salman Rushdie à morte.
O Código Da Vinci vendeu
400 mil cópias no Brasil e o editor
acredita que a tiragem chegará a 800
mil. No mundo, o romance já vendeu 15
milhões
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ÍCONE
Mona Lisa, o quadro mais famoso do mundo, foi pintado por
Leonardo da Vinci no início do século XVI
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A
Sextante não vive só de Brown. Mas tem agora no autor americano, de quem
comprou todos os títulos, sua menina-dos-olhos. Depois de O Código
e Anjos, a editora publicará os dois primeiros romances do
americano: Fortaleza Digital, em março do próximo ano, e
Deception Point, ainda sem título em português, no final de 2005.
Ambos são thrillers com elementos de tecnologia. A editora também tem os
direitos de publicação do romance que se seguirá ao Código. O
livro será lançado nos EUA no segundo semestre de 2005 e foi comprado
'no escuro'. Mas como duvidar de um autor que vendeu 15 milhões de
exemplares de uma única obra? Adaptado para o cinema, com Tom Hanks
confirmado para o papel principal, o romance poderá chegar à marca dos
20 milhões. 'Quando entramos nessa, não avaliávamos o que tínhamos em
mãos', confessa o editor
(© Revista ÉPOCA)
Entenda a
polêmica em torno do livro O Código Da Vinci
"Controvérsia e diálogo são saudáveis para a
religião como um todo. A religião só tem apenas um inimigo – a
apatia – e o debate passional é um antídoto soberbo"
Dan Brown, em
seu site (www.danbrown.com).
Em
O Código Da Vinci, o ex-professor ginasial norte-americano Dan
Brown mexe em um vespeiro ao acusar a Igreja Católica de ser uma
instituição criada e fundamentada em uma mentira. Para a Igreja e para
os católicos, Jesus Cristo, filho de Deus, mobilizou comunidades em nome
de um ideal de fé e purificação. E veio ao mundo com a missão de perdoar
os pecados humanos e preparar seu povo para o Juízo Final.
Na
versão de Brow, Jesus seria um homem comum, que casou e teve filhos com
Maria Madalena, mulher por vezes traduzida na bíblia como prostituta. O
papel de liderança não seria dele, mas da sua esposa, que teria
comandado os apóstolos que celebravam, na verdade, a sabedoria e a
sexualidade.
No
livro, os dois protagonistas da história seguem uma série de pistas que
os levam à "maior conspiração da história": a Igreja Católica foi
fundada sobre o segredo de que Jesus era um simples mortal e que sua
santidade foi aferida séculos após sua morte para justificar a
existência da igreja. Nessa versão, Jesus seria uma invenção do
imperador Constantino no Concílio de Nicéia. O quatro evangelhos
canônicos seriam apenas quatro (Mateus, Marcos, Lucas e João). A Igreja
teria escondido os outros 80 evangelhos gnósticos (ou apócrifos), onde
estariam grandes revelações na verdadeira "versão" da história.
Após a crucificação de Jesus, Maria, sua sucessora e líder da igreja
primitiva, e sua filha Sara teriam partido para a Gália e lá teriam
fundado a linhagem dos merovíngios, da família real francesa (os
descendentes de Jesus, segundo o livro, viveriam até hoje na França).
Essa dinastia, encravada na organização secreta Priorado de Sião, tinha
os templários como uma espécie de milícia. Da Vinci seria um membro
dessa organização, que conhecia os segredos dos templários, entre eles o
de que Santo Graal conservaria os restos do corpo de Maria. Leonardo da
Vinci teria deixado vazar segredos, colocando em suas telas pistas do
papel que Maria Madalena teria realmente tido na religião católica.
No
livro, as pistas são deixadas em quadros do pintor, como na Santa
Ceia (quem estaria à direita de Jesus seria Maria, e não João. "O
rosto é feminino demais para ter o nome do apóstolo", argumenta Brown).
Daí o nome do livro, "Código" Da Vinci, ou seja, o significado secreto
de sua cifrada pintura.
Enquanto os críticos literários colocam essa apenas como mais uma
polêmica obra de ficção, o autor garante que as teorias presentes na
história têm valor. Segundo Dan Brown, o enredo está baseado em
passagens verdadeiras da vida de Jesus, que a Igreja Católica fez
questão de esconder.
Argumentos em defesa
-
A Igreja selecionou os escritos, pois seria impossível fazer uma Bíblia
com milhares deles. Os evangelhos apócrifos foram encontrados depois da
Escritura Sagrada ficar pronta e a sua existência é reconhecida pelo
Vaticano.
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Está claro para a Igreja que Jesus é dotado de divindade.
Historicamente, o homem Jesus de Nazaré existiu mesmo e, para os
cristãos, essa mesma figura era Deus feito homem.
-
Não há nenhum documento, mesmo entre os apócrifos, que confirme que
Jesus teve mulher e filhos. Pelo contrário. De acordo com a Bíblia,
Jesus teria feito o voto de Nazireus. Ele era o primeiro filho e o voto
o colocava no papel de cuidador da família, já que, ao que tudo indica,
seu pai teria morrido muito cedo. Os cabelos longos seriam uma prova
dessa posição. Tudo isso também derruba a idéia do envolvimento com
Maria Madalena.
(© Revista ÉPOCA)
Curtas e
rápidas sobre O Código Da Vinci
Nas telas de cinema
O
ator Tom Hanks será o protagonista da adaptação do livro "O Código Da
Vinci" para o cinema. Segundo a revista "Newsweek", os direitos do livro
de Dan Brown foram comprados por US$ 6 milhões pelos estúdios Sony, que
entregou o projeto ao produtor Brian Grazer e ao diretor Ron Howard, a
dupla vencedora do Oscar de melhor filme em 2002 por "Uma Mente
Brilhante". Os outros atores do filme, cuja trama se passa
principalmente no Museu do Louvre, ainda não foram definidos. Entre os
atores que estavam cotados para o papel principal estavam George Clooney
e Russell Crowe.
Percurso turístico-literário
A
mais nova sensação em Paris é conhecer os lugares parisienses onde se
passa o romance. Algumas agências oferecem passeios em locais descritos
em O Código Da Vinci. O roteiro começa no museu do Louvre, onde
está o quadro da Mona Lisa e a Pirâmide do Louvre, que teria, segundo o
livro, 666 placas de vidro, o número do diabo. Depois, segue pela margem
esquerda do rio Sena, onde fica a igreja Saint-Sulpice, que teria sido o
quartel-general da seita Priorado de Sião. Seus membros detinham o
segredo de que Jesus teria sido um homem comum e que sua santidade foi
construída ao longo dos séculos para justificar o poder da Igreja
Católica. Um cartaz afixado na Igreja explica que as informações do
livro são falsas. Entre os outros locais citados no livros estão a
Pyramide Inversée, o Monumento a Newton, na Abadia de Westminster, o
Temple Church, em Londres, local original de culto dos Cavaleiros
Templarios, e a Capela Rosslyn, perto de Edimburgo, na Escócia.
Proibição no Líbano
Depois de queixas de líderes católicos, segundo os quais o livro é uma
ofensa ao cristianismo, o Líbano proibiu a venda do livro no país. Uma
fonte do setor de segurança disse que o Líbano, onde convivem
muçulmanos, cristãos e drusos, há anos pede conselhos às autoridades
religiosas sobre livros potencialmente perturbadores.
(© Revista ÉPOCA)
Livros sobre
Leonardo Da Vinci
FEDERICO MENGOZZI
(© Revista ÉPOCA)
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