Setor responde por 12% do PIB
DA ASSOCIATED PRESS
Uma combinação de hotéis decadentes, restaurantes caros e
altos impostos sobre compras está custando à Itália, seus turistas
estrangeiros, segundo especialistas.
De 2000 a 2003, o país perdeu 3 milhões de visitantes. A
queda representou a diminuição de 4 bilhões (ou US$ 5,2 bilhões)
por ano nos ganhos do setor de turismo.
Durante os primeiros sete meses deste ano, o número de
turistas ainda encolheu mais 10%, abrindo caminho para o que os
especialistas previram que seria "o pior balanço do turismo nos
últimos cinco anos".
As razões da queda no turismo citadas são hotéis velhos,
restaurantes e bares caros, uma virtual falta de programas
especiais para a família e uma forte concorrência de países em que
os custos da viagem saem mais baixos.
Turistas na Itália sentem o impacto de uma alta taxa de
consumo, de 10%. Na Grécia, a taxa é de 8%; na Espanha vale 7%; e
na França é de 5,5%.
Apesar da pequena desvalorização do dólar em relação ao
euro, o número de turistas norte-americanos parece segurar as
pontas dos balanços do turismo no país. Roma, Florença e Veneza
são as cidades mais visitadas por esses turistas. O setor é
responsável por 12% do PIB (Produto Interno Bruto) italiano e
emprega 12,5% da força de trabalho no país.
(©
Folha de S. Paulo)
Segredos
revelados da Toscana
Vivian Oswald
Volterra, Itália
ESPECIAL PARA O GLOBO
CENTENAS DE ANOS se
passaram e as paisagens da Toscana ainda são as mesmas retratadas
pelos pintores florentinos. As grandes casas de pedra fincadas no
alto dos montes ensolarados, cercadas por oliveiras, videiras e
ciprestes — as villas , como são chamadas pelos italianos
— ainda compõem os cenários da Idade Média que tanto inspiraram
escritores, pintores e diretores de cinema de todas as épocas.
Grandes cidades exuberantes, como Florença, Siena e Pisa, ainda
ostentam a riqueza que acumularam com o desenvolvimento do
comércio e da indústria a partir do século XI. As cidades menores
proporcionam uma viagem no tempo, com sua arquitetura medieval
quase intocada e monumentos bem mais velhos do que o jovem Brasil
de 1500. Descobrir uma casa para ficar por uma ou duas semanas em
uma cidade menos óbvia e a partir dela percorrer a Toscana de
carro é uma das melhores maneiras de conhecer tudo o que a região
tem para mostrar.
(©
O Globo)
Piazza del Campo é ponto de
encontro de jovens
O MOVIMENTO em bares e restaurantes na
Piazza del Campo é intenso o dia inteiro
DO ALTO da Torre del Mangia,
Siena parece ainda mais monumental. Os telhados irregulares de casas e
prédios ocre formam um enorme quebra-cabeça. Lá de cima, vista sem
distorções, a Piazza del Campo é ainda mais grandiosa. Mesmo à
distância, é difícil fazê-la caber na fotografia. A praça tem o formato
de uma enorme concha, com prédios de tijolinhos e pedras harmonicamente
dispostos à sua volta.
A fachada do Palazzo Publico é o
ponto de convergência das oito linhas brancas que dividem o Campo em
nove gomos. A qualquer hora, o movimento na praça impressiona. Perto do
almoço, jovens sentam-se próximos à Fonte Gaia para comer um sanduíche
ou tomar sol.
A gigantesca catedral listrada de
mármore branco e preto de Siena começou a ser construída no século XII e
só foi concluída no século XIV, tendo sido inspirada na abadia de San
Galgano. No apogeu econômico de Siena, a cidade resolveu que deveria ter
uma catedral maior para homenagear a Virgem Maria e que ela deveria ser
ainda mais portentosa do que a de Florença.
O trabalho começou em 1339 e
teria andado rápido não fosse a peste negra que assolou a região e
interrompeu a construção da igreja em 1348, levando a cidade a perder
boa parte de sua mão-de-obra. Tempos depois, parte do prédio foi
demolida por correr o risco de desabar. Do projeto do século XIV,
ficaram os arcos da nave e o que daria origem à fachada do edifício.
Mais impressionante que a
fachada, as dimensões ou as obras de arte de dentro da catedral é o
piso. O pavimento é decorado com 56 painéis de mármore — feitos por 40
artistas entre 1369 e 1547 — que contam histórias mitológicas e cenas do
Antigo Testamento.
Para melhor proteger o piso por
onde passam milhares de pessoas diariamente, apenas 60% dele ficam à
mostra. O restante é protegido por um pavimento temporário, que vai
sendo trocado de lugar de tempos em tempos para permitir que todos os
painéis sejam apreciados pelo público. Para entrar na igreja, que
controla o número de pessoas dentro do prédio, é preciso pagar 6 euros.
Maior concorrente de Florença na
Idade Média, Siena chegou a ser uma república independente no século XII
e próspera graças ao comércio e a seus banqueiros. Na cidade, um bom
programa é se perder pelas ruas estreitas. No fim, todas convergem para
a Piazza del Campo. Mas, como em qualquer lugar do mundo, é bom ter
cuidado com as arapucas para turistas. Dependendo do lugar, um sanduíche
pode custar três vezes mais do que o valor de mercado.
(©
O Globo)
Piazza dei Miracoli
OS ESPECIALISTAS advertem: a
Torre de Pisa pode tombar em 2040. É por este motivo que a cidade tem
feito de tudo para desestimular visitas ao monumento. Para os
desavisados, pode ser frustrante chegar a Pisa e não poder subir na
torre. As visitas somente são permitidas se agendadas com antecedência
pela internet. São marcadas para 16 a 45 dias após a data da compra dos
ingressos, que custam 15 euros por pessoa.
Mas a torre é apenas uma das
atrações da cidade onde nasceu Galileu Galilei. A Piazza dei Miracoli,
ou Piazza del Duomo, é uma das mais lindas do mundo. Reúne não só a
Torre Pendente, com seus 58 metros de altura, mas também a catedral, o
batistério e o cemitério do Campo Santo.
Em formato de cruz, a imensa
catedral de Pisa, que começou a ser erguida em 1063, levou apenas cem
anos para ficar pronta, sinal da pujança da cidade, que já foi uma das
mais ricas da Itália. O púlpito todo em mármore é uma das obras-primas
do mestre Giovani Pisano e levou dez anos para ser feito.
No cemitério do Campo Santo, há
esculturas e alguns túmulos de romanos ali enterrados. O afresco
“Triunfo da morte”, do século XIV, é uma das obras mais marcantes da
pintura italiana. Ele foi tirado do seu local original, no corredor onde
ficam as tumbas, e deixado numa sala aberta para visitação.
Pisa é animada, com o movimento
dos estudantes da tradicional universidade, reconhecida em toda a Europa
pela qualidade do ensino. As casas de fachadas amarelas, rosadas e ocre,
à beira de um dos trechos mais bonitos do rio Arno, são uma atração à
parte. Uma dica para entrar na cidade é estacionar o carro o mais perto
possível da Piazza del Duomo, até o limite em que as ruas passam a ser
de mão única.
(©
O Globo)
Preciosidades do
roteiro gastronômico
Descobrir vilarejos toscanos ou
uma estrada fora de qualquer mapa, que corte extensos vales de videiras
e oliveiras, pode ser tão bom quanto visitar os roteiros “obrigatórios”
da região. Fomos parar em Trevane por acaso. A casa que alugamos, um
charmoso chalé de madeira no alto de uma montanha, ficava lá. O pequeno
povoado de 20 habitantes chega à superpopulação de 51 pessoas no auge do
verão.
O ponto alto do lugar é o
mercadinho. Escondido no meio do vilarejo ao qual não se tem acesso de
carro, o armazém do Enzo fica nos fundos de sua casa. Trata-se de uma
pequena venda. Embora a variedade de produtos não seja a mesma das
grandes lojas voltadas para os turistas na maioria das cidades da
Toscana, tem-se a certeza de que o que está sendo vendido ali é
exatamente o que consomem os moradores.
Os preços são muito menos
salgados e os produtos, de altíssima qualidade. É preciso ter a sorte de
encontrar Enzo para fazer as compras. Na maioria das vezes, ele deixa a
porta entreaberta ou com a chave pelo lado de fora. Basta entrar e
chamá-lo. A conta, faz num papel de embrulhar salame. Ao final de tudo,
Enzo me ensina um caminho alternativo para voltar: atravessar uma trilha
que passa por dentro de seu jardim e do galinheiro para não precisar
andar cem metros pelo asfalto.
A dois quilômetros de Trevane,
descobrimos, em La Trappola, um vilarejo ainda mais alto, o
Ristorante-Pizzeria Da Giorgio. Comida espetacular e atendimento
excelente num ambiente altamente acolhedor. Sem falar nos preços. Um
jantar com entrada, prato principal, sobremesas e vinho para casal saiu
a 26 euros. Voltamos várias vezes.
(©
O Globo)
Roteiro das
propriedades que produzem o vinho típico da região
Roteiro das propriedades que produzem o vinho típico da região passa por
muralhas medievais e vales de oliveiras
O
PASSEIO pela Toscana não pode deixar de incluir uma incursão ao
delicioso mundo do Chianti. São vários os roteiros das fattorie
que produzem o vinho mais importante da região. Para quem quer
aproveitar cada um deles, a página <www.chianti.it> oferece boas opções
de itinerários. Assim como acontece com o champanhe, que só pode ser
produzido na região de mesmo nome na França, o Chianti é fabricado
somente em algumas partes da Toscana.
As garrafas bojudas revestidas de
palha são as mais conhecidas. Os preços variam de cinco euros, as marcas
menos badaladas, a mais de cem euros, o famoso Brunello di Montalcino,
por exemplo. Há opções mais em conta que não deixam nada a desejar às
famosas, como o Castello d’Albola de Ellere e o Castello de Oliveto. Um
dos Chianti recomendados pelos italianos — com um preço menos camarada —
é o Castelo di Ama 2000, que sai por 25 euros.
A partir de Radda in Chianti,
pode-se percorrer um dos belos roteiros do vinho. Junto com Castellina
in Chianti e Gaiole, a cidade formava a Liga do Chianti. Os muros do
século XV ainda podem ser vistos, assim como caminhos e túneis
medievais. A estrada que liga as três cidades tem uma vista e tanto. São
vales repletos de videiras e oliveiras. As fattorie produtoras
do Chianti geralmente estão abertas a visitação e vendas. Algumas
oferecem hospedagem.
Em Castellina in Chianti, o
comércio é sofisticado e há dezenas de ateliês. A Via Ferruccio abriga
lojas especializadas em presuntos, salames e queijos. Os pecorinos
(queijos de ovelha típicos da Toscana) são imperdíveis, principalmente o
pecorino al tartufo . A praça da igreja San Salvatore é a
entrada de um dos pontos altos da cidade: a Via delle Volte, um túnel de
pedra, entre os muros que protegem a cidade e o Centro, onde há lojas,
galerias e restaurantes.
Comer na Toscana também é um
excelente programa. Os restaurantes costumam ser muito bons e os preços,
razoáveis. Mas comprar os produtos típicos em lojas sofisticadas ou nos
armazéns, e preparar os pratos em casa, sempre dá certo. As combinações
são perfeitas. Os azeites também precisam ser provados, especialmente
nesta época do ano, de colheita das azeitonas.
(©
O Globo)
Pequenos recantos
Locais como Volterra e San Gimignano têm hospedagem mais charmosa e
barata em comparação com as grandes cidades
SAN GIMIGNANO: a pequena cidade tinha cerca de 70 torres medievais;
hoje, 14 permanecem de pé e podem ser avistadas de longe
MONTERIGGIONI: as muralhas da cidade, fortificada desde o século XIII,
continuam intocadas
SAN GALGANO: a arquitetura da abadia inspirou a catedral de Siena
A HISTÓRIA do filme “Sob o sol da
Toscana”, de Bernardo Bertolucci, pode ser um grande clichê, mas ela se
repete. São muitos os casos de turistas que se encantam, deixam tudo
para trás em seus países e instalam-se na Toscana. O nome vem de Tuscia,
palavra herdada do latim no século III para descrever a região conhecida
como Etruria, como se chamava o território do povo etrusco, ou Tusci.
Além de conseguir um bom quarto
de hotel, o turista também tem a oportunidade de buscar uma casa
tipicamente toscana para ficar. Mas não adianta achar um cantinho
simpático se ele não for bem localizado. É preciso estudar um mapa,
calcular as distâncias e aí sim descobrir a melhor alternativa.
Esta não é só a escolha mais
charmosa. Pode sair mais em conta. Dependendo do mês, a diária pode
custar cerca de 100 euros para duas ou três pessoas. Menos concorrida e
bastante central, a cidade de Volterra (e seus arredores) tem ótimas
opções e pode ser uma boa base para a viagem. Além de estar próxima das
principais atrações da Toscana, Volterra tem muito a oferecer: de
monumentos a restaurantes e enotecas com as mais variadas marcas dos
melhores Chianti e outros produtos típicos da região.
Entre os principais atrativos da
cidade estão a Piazza dei Priori, com seu Palazzo Pretori, do século
XIII, e a catedral de estilo românico-pisano, com obras de arte e
afrescos dos séculos XV e XVI. Impressionam a Porta all’Arco, portal
etrusco do século IV a.C. que serve como uma das entradas para a cidade
até hoje, e as ruínas do teatro romano, do século I a.C. Bem perto de
Volterra, a pequena estrada que leva à cidade de Mazzolla, que não
aparece na maioria dos mapas, tem uma bela vista para os campos toscanos
e um panorama especialíssimo no pôr-do-sol.
A 20km de Volterra, da estrada
mesmo, já se vêem as 14 torres remanescentes de San Gimignano. Elas já
foram 70. Do alto da Torre Grossa, uma vista magnífica dos telhados e
das outras torres. À noite, como a grande maioria das cidades da região,
San Gimignano se transforma. As hordas de turistas espalhadas por cada
uma das vielas dão lugar a um vazio quase medieval. É possível
imaginar-se em plena Idade Média. Ouvem-se apenas vozes ao longe ou o
som de um ou outro salto alto tentando se equilibrar nas pedras do
calçamento. O comércio, em função da sagrada sesta dos italianos, fica
aberto até um pouco mais tarde. As lojas fecham entre 20h30m e 21h.
Ao contrário do que se poderia
imaginar, a riqueza das cidades maiores está longe de ofuscar o que os
vilarejos menores têm a oferecer. Com menos de oito mil habitantes,
Monteriggioni passaria despercebida, não fosse o fato de ser totalmente
fortificada até hoje. No alto de uma montanha, ao norte de Siena, o
vilarejo ainda conserva as fortificações construídas no século XIII e
descritas por Dante Alighieri em sua “Divina comédia”. Uma das ruas da
cidade tem o nome do escritor.
Em dias de sol, vale parar para
um sorvete na gelateria atrás da Piazza Gamurrini antes de andar pelas
ruas de Monteriggioni. As duas saídas da cidade têm um belo panorama do
vale lá embaixo.
Em Massa Maritima, cidade mais ao
Sul conhecida como “jóia da Idade Média”, o clima medieval fica por
conta da grandiosa Piazza Garibaldi com seus três prédios de estilo
românico: o Palazzo del Podestà, a prefeitura e a catedral. As várias
vielas e ladeiras da cidade levam à Fortezza dei Senese e à Torre del
Candeliere, construídas no século XIII.
A prosperidade da Toscana a
partir do século XI, com a intensificação do comércio, promoveu a
construção de uma série de igrejas pela região. No mesmo período da
Idade Média, vários monastérios de ordens tradicionais, como os
Beneditinos, os Dominicanos e os Franciscanos, instalaram-se nas
paisagens toscanas.
A abadia românico-gótica de San
Galgano foi erguida entre 1224 e 1288 em homenagem ao santo do mesmo
nome e serviu de inspiração para a catedral de Siena. Próximas à estrada
que vai de Siena a Massa Maritima, as ruínas da abadia são vistas ao
longe e quase se misturam à paisagem. San Galgano talvez não fosse tão
deslumbrante se ainda estivesse inteira. Duas fileiras de ciprestes
abrem caminho para o que sobrou dos arcos em forma de ogivas da abadia.
A uma pequena caminhada dali, está a ermida do século XII.
Mais distantes, a ermida dos
monges de Camaldoli, um minúsculo vilarejo monástico de 20 pequenas
casas construídas entre os séculos XIII e XVII, com seu convento do
século XI, e o mosteiro de Monte Oliveto Maggiore, do século XIV, também
têm que ser visitados. Neste último, há 36 afrescos, pintados a partir
de 1498 por Luca Signorelli e por Sodoma, entre 1505 e 1508, contando a
vida de São Benedito. Na igreja, ainda está o crucifixo de madeira de
1313, levado por seu fundador.
No alto de uma colina onde se
perdem de vista as compridas fileiras de oliveiras, Cortona tem uma
arquitetura riquíssima. As praças são grandiosas e a vista do alto da
cidade para o vale Chiana e parte do lago Trasimeno é deslumbrante. O
que se diz é que pouco mudou na cidade desde o Renascimento. Cortona foi
o berço de mestres da pintura italiana, entre eles o precursor de
Michelangelo, Luca Signorelli (1450-1523). Na entrada de Cortona, a
igreja renascentista de Santa Maria Nuova, do século XVI, exibe a cúpula
de Vasari.
(©
O Globo) |