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O mestre em questão

RESSURREIÇÃO DE CRISTO
O quadro comprado nos anos 50 pelo Masp: o tempo provou que Bardi tinha bom faro

Mostra em Londres reacende as polêmicas em torno do pintor renascentista Rafael Sanzio

Sérgio Martins

   A National Gallery, de Londres, exibe desde o dia 20 uma das mais ambiciosas retrospectivas do pintor italiano Rafael Sanzio (1483-1520). Rafael: de Urbino a Roma mostra 38 telas da fase inicial do artista, o maior acervo já reunido fora de seu país natal. A intenção dos curadores é revelar como Rafael burilou seu estilo até tornar-se um dos mestres da Renascença.

   É também uma ocasião de gala para o museu exibir sua mais recente – e polêmica – aquisição: o quadro Madona Rosa, obra que custou o equivalente a 116 milhões de reais e tem sua autenticidade contestada por especialistas. O curioso é que a controvérsia acabou respingando sobre outro quadro de Rafael, Ressurreição de Cristo. Esse último pertence ao acervo do Museu de Arte de São Paulo, o Masp, e sua ida a Londres só ocorreu depois de negociações difíceis. O museu concordou em emprestá-lo com a garantia de que a obra seria cercada de cuidados especiais – como a exibição sob uma placa de vidro. O valor do seguro foi de 30 milhões de dólares.

   Os críticos ingleses reagiram com mau humor contra a mostra – e contra o próprio Rafael. Acusou-se a National Gallery de promover a exposição como forma de justificar a aquisição supostamente desastrada da Madona Rosa. Como o acervo cobre a trajetória do pintor anterior à sua maturidade, voltou à tona uma tese que remonta ao século XIX: a de que Rafael não foi um artista prodígio, mas alguém que teve grandes dificuldades para reproduzir a anatomia humana e domar a rigidez de seus traços.

   A obra do Masp tornou-se um dos alvos desses detratores do mestre renascentista. "A Ressurreição de Cristo, vinda de São Paulo, sublinha a rigidez dos primeiros trabalhos de Rafael – se é que o quadro é realmente dele", escreveu o crítico Waldemar Januszczak, autor de um livro sobre Rafael, no jornal The Times.  

AFP

MADONA ROSA
A obra polêmica da National Gallery: 116 milhões de reais e autoria nunca comprovada

   Na polêmica da autenticidade, o quadro do Masp leva vantagem em relação ao da National Gallery. Historicamente, a Madona Rosa tem sido considerada tão-somente uma cópia de um trabalho de Rafael que se perdeu com o tempo. Apenas nos anos 90 uma equipe de pesquisadores, com o uso de técnicas como o raio X, começou a explorar evidências de que poderia ser uma obra legítima do artista. O caso da Ressurreição de Cristo é diferente.

   O quadro foi adquirido em 1954 para o Masp pelo curador Pietro Maria Bardi e pelo magnata Assis Chateaubriand. Foi uma aposta ousada, uma vez que estudiosos do Renascimento desmereciam a tela. Ao longo dos anos, porém, foram surgindo desenhos realizados por Rafael que aparentavam ser estudos para o quadro. O mais importante deles veio à tona em 1992, na cidade italiana de Pesaro. O faro de Bardi estava certo: hoje em dia, o coro dos que apostam na autenticidade da Ressurreição é muito mais forte do que o dos que dizem o contrário.

(© Revista VEJA)

Para saber mais sobre este assunto (arquivo ItaliaOggi):

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