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Fontana del Cane, em Roma |
da BBC, em Londres
Numa cidade italiana, as lagostas têm direitos civis, e os
canários devem ter parceiros sentimentais. São exemplos de leis que têm
pipocado no país, para garantir que os bichinhos de estimação sejam
respeitados.
A mais rígida entrou em vigor em
toda a Itália há pouco mais de um mês, prevendo prisão e multa de mais
de R$ 500 mil para quem maltratar um animal. Até mudar a cor dos pêlos
dos gatos ou deixá-los no carro sob o sol, por exemplo, são atos
considerados como maus-tratos.
A nova lei foi motivada pelo
estranho hábito dos italianos de abandonar todos os anos nas ruas cerca
de 150 mil cachorros e 200 mil gatos, sem se preocupar com o fato de que
85% deles acabem morrendo atropelados, de fome, ou de sede.
Comoção
Aprovada pelo Congresso, a
iniciativa tem estimulado uma espécie de "comoção nacional".
Na televisão, os comerciais
chamam de "bastardos" os proprietários que dispensam seus mascotes. Nos
principais jornais, reportagens sobre cães e gatos encontrados e salvos
da morte são freqüentes.
Em Imperia, no norte do país, a
morte recente de seis hâmsters e um porquinho-da-índia, que caíram de um
prédio numa rua movimentada e foram atropelados, abalou a cidade.
Sem saber quem era o culpado, a
polícia estudou a trajétoria da queda e chegou ao apartamento de um
aposentado.
O homem alega que os bichinhos
caíram acidentalmente, quando estava varrendo a sacada. Se for
condenado, poderá pegar até 18 meses de prisão.
Cartazes
Em Roma, a Prefeitura distribuiu
cartazes pedindo à população para adotar os bichinhos recolhidos nos
canis municipais. Também apela aos proprietários para esterilizar seus
cães e gatos, para evitar um número maior deles perambulando pelas ruas.
"É uma lei justa. As pessoas
gostam dos cachorrinhos quando são pequenos. Depois, deixam nas ruas
para morrer", diz o garçom Luca Direnzo. "Desde que sou criança, vejo
isso acontecer. É justo que as pessoas sejam castigadas."
Direnzo acredita que, com
punições rigorosas, é possível fazer os italianos mudarem de atitude.
A nova lei prevê multas e penas
diferenciadas de acordo com o grau de crueldade cometida contra os
animais. Variam de 3 mil a 160 mil euros e de três meses a três anos de
prisão.
Deixar um gato sem comida, dentro
de um carro no sol, ou modificar a cor natural de seu pêlo, por exemplo,
é ilegal.
Qualquer pessoa considerada
culpada de matar ou torturar animais, organizar lutas de cachorros, ou
vender clandestinamente peles para as indústrias também será penalizada.
Eficácia
Federico Mazzocchi, funcionário
de um dos canis de Roma elogia a aprovação da lei, mas não acredita que
ela possa ser tão eficaz.
"Quase todas as noites,
encontramos um cachorro abandonado", afirma. "Isso é preocupante. Tenho
dúvidas se a nova lei realmente constrangerá as pessoas."
Valeria Salone, coordenadora da
Mondo Cane, uma das muitas associações protetoras dos direitos dos
animais na Itália, concorda.
"A vida para os animais é muito
difícil, porque eles não são respeitados", afirma Valeria. "O abandono
ainda é grande, igual ao ano passado."
Silvia Viviani, responsável pela
Colônia Felina da Torre Argentina, localizada na área arqueológica
sagrada do centro de Roma, onde os gatos são considerados bem
biocultural do município, diz que a lei ainda não é a melhor. Mas,
apresenta avanços muito importantes.
"Agora, os animais italianos têm
mais direitos", diz Silvia, que atende cerca de 600 gatos abandonados
todos os anos. "Isso ocorre porque tivemos uma lei anterior, que veta a
morte dos animais capturados pelos canis municipais. Em muitos países,
cães e gatos são sacrificados dias depois se ninguém procurar por eles.
Aqui é proibido."
Segundo Monica Cirinnà,
encarregada do departamento municipal para os direitos dos animais, uma
das grandes dificuldades é encontrar lugar para todos os cães
abandonados ou gatos feridos. Por isso, ela defende que as famílias
italianas comecem a esterilizar os bichinhos.
Além da lei nacional, muitas
outras de âmbito municipal surgiram nos últimos meses.
Água fervente
Em Reggio Emilia, no centro da
Itália, é ilegal colocar lagostas vivas para cozinhar em água fervente.
É recomendável matá-las primeiro, para evitar tortura desnecessária.
Já os proprietários de canários
devem providenciar um parceiro sentimental para seus pássaros, evitando
assim que eles sofram de solidão. Se não fizerem isso, devem pagar
multas de 25 a 495 euros.
No norte de Piemonte, a lei exige
que todos os donos de cães implantem microchips em seus animais. Assim é
mais fácil encontrá-los quando estão perdidos, bem como seus donos
quando os abandonam.
A comoção nacional em torno dos
bichinhos tem facilitado a vida dos mendigos de Roma. Muitos, como
Renato Balazzi, usam os cachorros para pedir dinheiro.
"Logicamente, as pessoas deixam
mais dinheiro quando estou com os cachorros", afirma. "Mas, quando me
perguntam se estou pedindo dinheiro para mim, ou para eles, digo a
verdade."
Balazzi não precisa fazer muito.
Apenas coloca um pequeno cartaz no chão, dizendo "temos fome", que todos
ajudam.
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