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'Sonho de uma noite de verão', no Municipal: companhia
responde com competência ao desafio da montagem |
Ballet do Scala de Milão faz bela homenagem ao centenário do
coreógrafo Balanchine
Roberto Pereira
Uma das mais tradicionais e importantes companhias de balé do mundo, o
Ballet do Teatro Scala de Milão concedeu ao público carioca a
oportunidade de conhecer uma obra bastante curiosa do grande
coreógrafo russo George Balanchine (1904-1983): Sonho de uma noite
de verão, baseada na peça de Shakespeare. Em temporada no Brasil,
a companhia italiana se apresenta até hoje no Teatro Municipal, às
17h, trazendo mais de 70 bailarinos e provando sua excelência no
cenário internacional do balé.
A curiosidade em torno dessa obra de Balanchine
fica por conta da dificuldade em se reconhecer a famosa assinatura
desse coreógrafo, sobretudo no primeiro ato. Estreado em 1962 e criado
para sua companhia, o New York City Ballet, Sonho de uma noite de
verão mostra um Balanchine pouco habilidoso com a narrativa, um
dos princípios mais básicos de um balé. Talvez seja por esse motivo
que ele tenha optado por contar toda a história shakespeariana de
forma condensada no primeiro ato, para poder deixar seu estilo correr
solto no segundo.
Assim, se o público de início é convidado a
perseguir os intrincados jogos amorosos de diversos personagens nesse
primeiro ato, pode se deleitar no estilo balanchiniano que o consagrou
como um criadores de uma ''dança abstrata'' no segundo. Esse estilo
pode ser observado sobretudo no pas-de-deux de Titânia,
primoroso em seus encadeamentos coreográficos e belamente executado
por Marta Romagna, sem dúvida a bailarina de toda a companhia que mais
se adequa às exigências estilísticas do coreógrafo.
Toda a companhia parece corresponder com
competência ao desafio que é montar uma peça de Balanchine criada
basicamente para uma companhia que era formada, estética e
tecnicamente, de acordo com seu estilo. Vencido o desafio, o Ballet do
Scala de Milão deixa a lição de que remontagem é sempre promover um
novo olhar sobre uma obra histórica, rara oportunidade ao público
carioca, que não teve chances de comemorar ainda o centenário de
nascimento de Balanchine.
Vale ainda mencionar a perfeita participação das 24
crianças da Escola do Teatro Bolshoi, da pequena cidade de Joinville,
Santa Catarina. Motivo de orgulho para nós brasileiros, essas crianças
desempenharam com apuro técnico e sobretudo musical o que lhes foi
proposto.
No ano que Balanchine completaria seu centenário,
assistir ao Ballet do Scala de Milão dá-nos a sensação de que a
temporada de balé finalmente se iniciou nos palcos cariocas, mesmo que
um tanto atrasada. Belo início e uma justa homenagem que nós ainda não
fomos capazes de prestar.
(© JB Online)
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