Riccardo Musacchio
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PAIXÃO:
Roberto Cotroneo declara amor a romances, poemas e à
música em seu ensaio |
Roberto Cotroneo comove ao analisar obras
fundamentais
Luís Antônio Giron
Em 1994, o italiano Roberto
Cotroneo dedicou Se uma Criança, numa Manhã de Verão... a
Francesco, seu filho de 2 anos. Redigido em forma de carta, o texto é um
ensaio sobre a importância da leitura para a formação do indivíduo.
Cotroneo, de 43 anos, comove o
leitor ao analisar as obras essenciais para formar sua personalidade: o
poema O Canto de Amor de John Alfred Prufrock, de T.S. Eliot, e
os romances A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, O
Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, e O Náufrago,
de Thomas Bernhardt. Cada título corresponde a uma chave para a vida:
paixão, inquietação, ternura e talento.
A partir deles, Cotroneo tece
relações com outros livros. O menino não poderia ler essas obras,
servindo como pretexto para o pai destilar seu amor pelas artes. Como
diria Homero, tudo existe para ir dar num livro. E o mundo, arremata
Cotroneo, precisa mais dos livros do que estes do mundo. Um hino à
fantasia.
(©
Revista ÉPOCA)
Literatura de pai
para filho
Crítico literário tenta repassar seu amor pelas letras em um livro
recomendado para crianças
CARLOS EDUARDO LINS E SILVA
Folhapress
Roberto Cotroneo é um crítico literário italiano. Em 94, quando seu
filho Francesco tinha dois anos, resolveu escrever-lhe uma carta sobre
o amor pelos livros. O resultado é Se uma Criança Numa Manhã
de Verão... recém-lançado no Brasil.
Trata-se de um trabalho singelo, erudito e cheio de amor, que
talvez todo pai que ama os livros e os filhos devesse tentar replicar.
Cotroneo escolheu quatro autores (Robert Louis Stevenson, J.D.
Salinger, T.S. Eliot e Thomas Bernhard) para mostrar a Francesco o
quanto uma pessoa pode aprender com a leitura. Ele associou cada um
desses autores a um sentimento que considera importante: a
inquietação, a ternura, a paixão e a frustração por possuir menos
talento do que um gênio.
Fez uma interpretação de A Ilha do Tesouro O Apanhador no
Campo de Centeio dois poemas de Eliot e O Náufragorelacionada
respectivamente a cada um dos sentimentos escolhidos.
E fechou a carta com uma releitura do ensaio de Jorge Luis Borges
intitulado Do Culto dos Livros em que o grande argentino,
citando Mallarmé, dizia que o mundo existe para justificar um livro.
Não que Cotroneo tenha diante dos livros (ou recomende ao filho) uma
atitude de reverência. Ao contrário, diz a Francesco: “Fique sabendo
que os livros podem até ser jogados fora”. O conselho é que a criança
explore os livros, brinque com eles, da mesma forma como ele sempre
lhe permitiu brincar ao piano para ir se familiarizando com a música.
A atitude que ele acha saudável ter com a literatura, embora a
considere a única maneira de compreender o mundo, não é de temor, de
subserviência a verdades definitivas, mas de amizade, questionamento e
redescobrimento.
Na esteira das lições de Borges, Cotroneo afirma: “Não chegaremos,
é claro, a qualquer tipo de conclusão, pois na literatura as
conclusões não existem, não há ponto de chegada. Tudo permanece
ambíguo, tudo escoa. Um livro nunca é o mesmo: é por isso que às vezes
reler é até mais estimulante do que enfrentar novos livros.”
“Nada é sagrado no diálogo com os livros”, conta ele ao filho. “Nem
começá-los pelo começo e terminá-los no fim. Porque a literatura e a
vida se entrelaçam de forma indissolúvel. E é justamente aí que está a
grandeza dos livros: precisam de leituras diferentes, abrem-se com
chaves que você tem de encontrar, ou que a sorte entrega em suas mãos
quando você menos espera.”
Se uma Criança, Numa Manhã de Verão, de Roberto Cotroneo.
Editora Rocco. Preço médio: R$ 28
(©
JC Online)
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