Pelo que conhece dos leitores brasileiros, o editor
Sergio Bonelli confia no futuro de sua nova criação no país.
- Jovens. É a eles que o terror agrada. São os
leitores mais novos, que assistem a filmes de horror nos cinemas e
gostam do gênero, que garantiram as vendas altas de Dampyr e que
me pegaram de surpresa - afirmou Sergio ao JB, por telefone, do
escritório da tradicionalíssima Sergio Bonelli Editore, em Milão.
Falando com o português perfeito de quem já veio
várias vezes ao Brasil, e conhece da floresta amazônica ao sertão
nordestino, Bonelli atribui o bom desempenho de Dampyr ao apelo
dos sugadores de sangue.
- Na Itália, o mito dos vampiros não nos diz muito
culturalmente. Temos outras lendas aqui, mas o cinema ajudou a
popularizar a figura dessas criaturas e atrair público para histórias
que elas estrelam - diz ele, ao apresentar Harlan Draka, anti-herói de
Dampyr.
Na série, Harlan é atormentado pela maldição de ser
fruto da união entre uma mulher e um vampiro. Mas, em vez de buscar um
divã freudiano para chorar seus traumas, ele ameniza sua dor livrando a
humanidade da raça de mordedores de pescoço, que espalham sua fome por
coágulos a quem ataca. A seu lado estão a bela morta-viva Tesla e o
soldado Kurjak.
- Dampyr nasceu de leituras feitas pelo
escritor Mauro Boselli de lendas a respeito de uma hierarquia vampírica,
que organiza esses seres em castas. O tema rendeu uma trama que, apesar
de complexa, atraiu a juventude italiana.
Com a experiência que acumulou em quatro décadas
devotadas aos gibis, o autor sabe que tem motivos para comemorar as 65
mil cópias mensais que Dampyr vende, desde sua estréia, em abril
de 2000. O número supera a média de outros títulos publicados em solo
italiano, que ronda os 25 mil.
- A vendagem é fantástica para os dias de hoje,
quando se fala em quadrinho seriado e industrial. Mas há 15 anos, quando
a internet ainda não concorria com os quadrinhos, 65 mil cópias vendidas
significaria fracasso - diz o veterano roteirista, hoje um editor
internacionalmente respeitado.
Nos anos 60 ele assumiu a direção da empresa criada
duas décadas antes pelo pai, o lendário roteirista Gian Luigi Bonelli
(1908-2001), que, em 1948, ao lado do desenhista Aurelio Galleppini,
criou o agente da Lei Tex Willer. Um dos mais populares personagens das
HQs mundiais, Tex chegou às telas com Giuliano Gemma no papel central. E
até hoje, seus gibis agradam. Mas aos mais velhos.
Hoje, os maiores êxitos de Bonelli são Dylan Dog, um
investigador do sobrenatural, e Dampyr, atualmente na edição
número 53. O quadrinho foi lançado nas bancas brasileiras pela
paulista Mythos, numa caprichada publicação em formatinho, cuja
tradução, feita por Julio Schneider, valoriza a prosa original de
Boselli.