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Calvino: terror do subconsciente e
das angústias do cotidiano |
Italo Calvino reúne 21 textos fundamentais do gênero
fantástico
Luiza Pastor
O que leva um ex-combatente da
resistência italiana ao nazismo e ex-comunista militante a reunir uma
antologia de contos ligados ao universo do mistério e do desconhecido?
Para o escritor Italo Calvino (1923-1985) – um dos mais importantes
nomes da literatura italiana no século XX –, o desafio serve para
mostrar “a interioridade do indivíduo e a simbologia coletiva”.
Algo que “aparece sempre
carregado de sentido, com a irrupção do inconsciente, do reprimido, do
esquecido, do que se distanciou de nossa atenção racional”. Eis
aí um excelente e, convenhamos, sofisticado argumento para ler
Contos fantásticos do século XIX escolhidos por Italo Calvino
(Companhia das Letras, 516 págs., R$ 36,50),
que reúne 21 textos de autores fundamentais para a consagração do estilo
junto a um público fiel.
Originalmente, o livro
publicado em 1983 – dois anos antes da morte do autor – circulou em dois
volumes, O fantástico visionário e O fantástico cotidiano.
A diferença entre ambos é que o primeiro reúne contos cheios de visões e
terrores do subconsciente, que surgem em diferentes versões, das
diabinhas traiçoeiras do polonês Jan Potocki em A história do
demoníaco Pacheco ao jeito de bicho-papão
de O homem de areia, de E.T.A. Hoffmann, que aterrorizava as
criancinhas do
mundo anglo-saxão.
O segundo volume se aproxima
mais do fantástico que se espalhou pela literatura
do século XX, ou seja, o terror das angústias concretas do cotidiano. É
o fantástico construído à base do absurdo e da incerteza em Os
construtores de pontes, de Rudyard Kipling, ou escorado nas paixões
dos reprimidos em Amour dure, de Vernon Lee. No conjunto, é uma
importante amostra de quantas caraminholas o homem é capaz de criar em
sua mente para terror de suas noites.
(©
ISTO É)
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