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O óleo Sem título (2001) é um bom exemplo da habilidade
com a cor |
Obra examina a trajetória de Arcangelo Ianelli,
do figurativismo à abstração absoluta
Luiz Chagas
Paulistano, daqueles que
tiveram o privilégio de brincar numa cidade arborizada e passear à noite
pelas ruas do centro iluminadas por lampiões a gás, o artista plástico
Arcangelo Ianelli continua comemorando uma trajetória de 60 anos de
carreira e 80 de vida, completados em 2002, com o lançamento do
portentoso livro Ianelli (Via Impressa, 274 págs., R$ 100).
Ricamente ilustrado, o volume traz as melhores e mais ilustres obras das
suas variadas fases – dos primeiros desenhos a carvão, passando pelos
óleos figurativos à geometria com a qual ficou mais conhecido até chegar
à completa abstração, quando abusa da intromissão das cores em telas que
explodem em tons sombrios, emotivos e leves. Há também um capítulo
dedicado às esculturas, atividade à qual ele se empenhou de 1975 a 2002.
A edição em português e inglês, prefaciada por Emanoel Araújo e Fábio
Magalhães, ainda traz textos de Eduardo da Rocha Virmond, José Roberto
Teixeira Leite, Juan Acha, Mariana Ianelli e Paulo Mendes de Almeida,
todos elucidando o percurso de Ianelli.
Aprimoramento –
Autodidata ferrenho, o filho de italianos começou a se
interessar por desenho ainda adolescente, sendo encaminhado para aulas
de pintura cujo resultado se limitou ao aprimoramento técnico. O quadro
Leitura, por exemplo, um óleo sobre tela de 1944 trazendo uma moça
vestida de vermelho com um livro sobre o colo, é um trabalho que
impressiona pela maturidade sem trair a autoria de um rapaz então com 22
anos. Ianelli pertence à geração de Aldemir Martins, Alfredo Volpi,
Tomie Ohtake, Francisco Rebolo e Manabu Mabe. Como alguns deles, saía
nos fins de semana com o cavalete debaixo do braço para registrar cenas
da periferia da metrópole. Integrou o grupo Guanabara – formado uma
década depois do célebre Santa Helena. A exemplo do irmão Thomaz
Ianelli, falecido em 2001, se encantou pela efervescência modernista do
pós-guerra, embora frequentasse sem demonstrar enfado ambientes
acadêmicos, a começar pelo Salão Paulista de Arte.
Apontado como o enxadrista da
arte, tal a sua estratégia em esgotar pacientemente cada fase da
carreira, todas em seu devido tempo, Ianelli solidificou sua posição no
mercado de arte. Foi assim que deu passos seguros e sem retorno. Nos
anos 1960, a reviravolta aconteceu por completo. As figuras deram lugar
às formas, a princípio geométricas e posteriormente indefinidas e com
cores supertrabalhadas, que, aos poucos fugiam da prisão delimitada pela
moldura. Desta maneira, o artista encarnou o mote moderno que estabelece
que a pintura deve falar por si e não remeter à uma situação anterior.
(©
Revista Isto É)
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