O Cinema segundo Glauber e
Pasolini apresenta nove filmes dos dois diretores, além de
dois documentários sobre eles
Luiz Zanin Oricchio
São Paulo -
A idéia de
aproximar o italiano Pier Paolo Pasolini e o brasileiro Glauber Rocha,
que já apareceu em textos teóricos, vem agora em uma retrospectiva no
Centro Cultural Banco do Brasil, com curadoria do cineasta Joel Pizzini.
O Cinema segundo Glauber e Pasolini, que
se encerra neste domingo, apresenta nove filmes dos dois diretores, além de dois
documentários sobre eles (Pier Paolo Pasolini, de Carlo
Hayman-Chaffey, e Retrato da Terra, de Pizzini e Paloma Rocha,
filha de Glauber). Haverá também um debate, amanhã, às 19 horas, com os
pesquisadores Luiz Nazário e Raquel Gerber.
Entre os filmes, comparecem alguns carros-chefes como Deus e o Diabo
na Terra do Sol, por um lado, e As Mil e Uma Noites, por
outro. São títulos muito reprisados, e de importância suficiente para
justificar a repetição. Mas há também raridades para valer, como O
Leão de Sete Cabeças e Claro, ambos realizados por Glauber no
exílio. Esses filmes intermediários deságuam em A Idade da Terra,
mal recebido no Festival de Veneza e que viria a figurar como testamento
do cineasta, morto um ano depois.
A trajetória de Pasolini é apresentada por As Mil e uma Noites,
versão livre dos contos orientais, que celebram o amor e a sensualidade.
Há também Medéia, adaptação de Eurípedes com a soprano Maria
Callas no papel principal, e que representa a imersão de Pasolini no
território do mito, local simbólico de onde ele procurava cavar
antídotos contra o horror da sociedade de consumo, vista como o
verdadeiro fascismo em sua etapa pós-mussoliniana. Mas, como Glauber,
também Pasolini termina numa ode desesperada, Salò, transposição
de um Sade doentio para o mundo moderno.