O coreógrafo e dançarino
Ismael Ivo vai dirigir Festival Internacional de Dança
Contemporânea, um dos mais importantes da área
Guilherme Aquino, da
BBC Brasil
Milão -
Um dos mais
importantes eventos do mundo da dança escolheu como diretor um
brasileiro ousado, capaz de abraçar ao mesmo tempo a burka islâmica e a
tanga indígena, para oferecer um amplo retrato do corpo nos dias de
hoje.
Na
edição deste ano da Bienal de Veneza, intitulada Body Attack
(Ataque Corporal), o coreógrafo e dançarino brasileiro Ismael Ivo quer
dar diferentes amostras de como distintas culturas lidam com o corpo. O
coreógrafo visa mostrar como o corpo pode ser um instrumento político,
uma arma capaz de resistir à opressão.
"O
que acontece com o corpo? Por que em algumas sociedades ele é coberto, é
reprimido?", pergunta o coreógrafo brasileiro. As respostas devem ser
dadas por artistas de 14 companhias de Cuba, Irã, Canadá, Itália, China,
Japão, Estados Unidos e Costa do Marfim.
Do
Chile vem o Balé de Santiago, dirigido pela brasileira Márcia Haydée,
que apresenta um espetáculo inspirado no poema Cuerpos Pintados, de
Pablo Neruda.
Ivo recebeu com surpresa o convite para assumir o cargo de diretor de
uma das mais importantes instituições européias no território da
cultura.
A
Bienal de Veneza é mais conhecida pela exposição de artes, mas também
abriga teatro, música e dança.
"A
Bienal não é um supermercado de arte. Ela é um centro no qual você
respira arte e participa de novas visões artísticas, Foi isso que tentei
fazer dentro do programa de dança. Quero fazer dela um espelho que
reflita a linguagem do corpo na atualidade e a projete no futuro", disse
o coreógrafo.
O
Brasil está diretamente representado por uma coreografia criada por Ivo,
que se inspirou na novela A Incrível e Triste História da Cândida
Erêndira e sua Avó Desalmada, do escritor colombiano Gabriel García
Márquez, e pelo "ritual do fogo" de uma tribo de índios xavantes do Mato
Grosso.
O
evento é o único a ocorrer em céu aberto, às margens dos canais de
Veneza, e promete ser um dos pontos altos do festival.
Um
dos espetáculos que promete ser dos mais contundentes do evento vem do
Irã. Letters from Tentland foi concebido pela coreógrafa alemã
Helena Waldmann e a dramaturga Susanne Vincez.
Elas levaram para o palco seis bailarinas iranianas, que se movem dentro
de tendas que revelam acontecimentos violentos. No espetáculo, as
mulheres, nos dizeres de Ivo, se "despem" da sua religiosidade e "soltam
os burros".
Ismael Ivo nasceu na periferia de São Paulo. Ele ganhou uma bolsa de
estudos para estagiar com a companhia do coreógrafo Alvin Ailey, em Nova
York, e em 1985 mudou-se para a Alemanha, onde vive até hoje.
Na
Bienal de Veneza, Ivo participou diretamente da criação das coreografias
das companhias convidadas.
Dessa maneira, conseguiu incluir na programação um grande número de
espetáculos inéditos. "Antes que os coreógrafos começassem a realizar
ensaios, fui até eles. Pesquisei e descobri artistas que estavam
buscando algo novo hoje e nos unimos num trabalho conjunto.
Estabelecemos um diálogo muito interessante."
O
Festival Internacional de Dança Contemporânea vai até 2 de julho.