Da Redação, com informações da Folha Online e das agências
internacionais
O cardeal Joseph Ratzinger, 78 anos completos no último sábado, foi
eleito nesta terça-feira o 265º papa da história e o oitavo sumo
pontífice alemão. Considerado o braço-direito de João Paulo 2º, ele
adotará o nome de Bento 16, de acordo com o site do
Vaticano, em português.
Pouco antes das 13h (de Brasília), a fumaça saiu pela terceira vez
da chaminé da capela Sistina, levando à euforia os milhares de fiéis
no Vaticano. Mas, como nas duas vezes anteriores, não era certo sua
cor.
Minutos depois, os sinos da basílica de São Pedro confirmaram. Por
volta das 13h40, o protodiácono anunciou "Habemus Papam" (temos papa).
O alemão, então, apareceu numa janela do Vaticano e pronunciou o "urbi
et orbi" (bênção a Roma e ao mundo), vestido com os trajes brancos
tradicionais de seda e lã e com o solidéu (gorro) na cabeça.
"Queridos irmãos e irmãs, depois do grande João Paulo 2º, os
cardeais escolheram a mim -- um simples, humilde trabalhador da vinha
do Senhor", disse. "Eu me confio às suas orações", afirmou o novo
papa.
Além da proximidade com João Paulo 2º, Ratzinger era o grande
favorito na eleição, por ser conservador (é contrário, por exemplo,
aos métodos contraceptivos), muito influente (foi prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano por 23 anos), poliglota
(fala dez línguas), intelectual (tem sete doutorados honorários) e não
é muito novo (evita que se desgaste demais com as mudanças rápidas da
sociedade).
Conservadorismo
Por 23 anos guardião da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano,
órgão que ficou no lugar do tribunal da Inquisição, Ratzinger mantém a
Igreja Católica na linha conservadora.
O alemão reprimiu com força os teólogos que saíram de sua doutrina
rígida e alienou outras denominações cristãs, dizendo que não são
igrejas verdadeiras.
Durante a doença terminal do papa, ele cuidou de muitas das funções
do sumo pontífice. Ele e João Paulo 2º foram chamados de "colegas
intelectuais" --têm pontos de vista conservadores sobre temas como o
controle da natalidade, diálogo entre as religiões, casamento
homossexual e feminismo.
Ratzinger começou a ganhar atenção ao chegar a Roma, em 1962, como
teólogo conselheiro do cardeal Josepf Frings [de Colônia, Alemanha] no
Segundo Concílio do Vaticano. Aos 35 anos, converteu-se em uma espécie
de "estrela" da teologia. Mas foi em 1968 que Ratzinger ganhou
destaque, quando travou uma luta ferrenha contra o marxismo e o
ateísmo, que cresciam entre os jovens.
Em várias ocasiões, Ratzinger declarou que gostaria de se aposentar
em uma vila na Baviera e se dedicar a escrever livros. Mas,
recentemente, disse a amigos que estava pronto para "aceitar qualquer
responsabilidade que Deus colocasse sobre ele" [referindo-se à
possibilidade de se tornar papa].
Depois da morte de João Paulo 2º, no último dia 2, Ratzinger deixou
sua função como encarregado da Congregação para a Doutrina da Fé.
Ratzinger se comunica em dez línguas e recebeu sete doutorados
honorários. É considerado um excelente pianista e tem preferência por
obras de Beethoven (1770-1827).
Sábado de Aleluia
O cardeal nasceu em um Sábado de Aleluia em Marktl am Inn, na
Baviera, em 16 de Abril de 1927, e foi batizado no mesmo dia. Filho de
um policial, Ratzinger viajou por muitas cidades devido às
transferências do trabalho de seu pai.
Em dezembro de 1932, devido às críticas abertas do pai de Ratzinger
contra os nazistas, sua família foi obrigada a se mudar para Auschau
am Inn, nos alpes da Baviera. Cinco anos mais tarde, com a
aposentadoria de seu pai, a família de Ratzinger se mudou para
Hufschlag, nos arredores da cidade de Traunstein (Baviera), onde
Ratzinger passou a maior parte de sua adolescência.
Ratzinger começou a estudar latim e grego ainda no ginásio. Em
1939, aos 12 anos, deu o primeiro passo para sua carreira eclesiástica
e entrou para o pequeno seminário de Traunstein.
Quatro anos mais tarde, Ratzinger e seus colegas de seminário foram
convocados para o Flak [corporação antiaérea], responsável pela
proteção de uma fábrica da BMW em Munique, durante a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945). Ainda assim, continuou freqüentando as aulas no
Maximilians-Gymnasium (Munique) três vezes por semana.
Em setembro de 1944, quando atingiu a idade militar, Ratzinger foi
liberado da Flak e voltou para casa. Em novembro do mesmo ano,
Ratzinger alistou-se no treinamento básico da infantaria alemã, mas
por motivos de doença (não-divulgados) foi dispensado da maioria das
obrigações militares severas.
Prisioneiro de guerra
Na primavera de 1945 (final de abril), com a aproximação das forças
aliadas, Ratzinger desertou do Exército e dirigiu-se para sua casa em
Traunstein. Quando os americanos finalmente chegaram a seu vilarejo,
eles resolveram estabelecer um quartel-general na casa de Ratzinger,
que foi identificado como um soldado alemão e preso num campo para
prisioneiros de guerra.
Em junho do mesmo ano, foi libertado e voltou mais uma vez para sua
casa em Traunstein, seguido por seu irmão Georg, em julho. Em
novembro, finalmente, Ratzinger e seu irmão retornaram ao seminário.
Em 1947, Ratzinger entrou no Herzogliches Georgianum, um instituto
teológico associado à Universidade de Munique. Paralelamente, estudou
filosofia e teologia na universidade de Munique e na Escola Superior
de Freising.
No dia 29 de junho de 1951, Ratzinger e seu irmão foram ordenados
padres pelo cardeal Faulhaber de Munique na catedral de Freising,
durante a festa de São Pedro e São Paulo.
Livro
Dois anos depois, Ratzinger recebeu seu doutorado em teologia pela
universidade de Munique. Em seguida, ele produziu seu primeiro
trabalho importante: "Volk und Haus Gottes in Augustins Lehre von der
Kirche" ("O povo e a Casa de Deus na doutrina de Santo Agostinho para
a Igreja", em tradução livre).
Ratzinger dedicou seu "Habilitationsschrift" [tese de
pós-doutorado] para a história da teologia.
Em 15 de abril de 1959, Ratzinger começou a lecionar como professor
titular de teologia na universidade de Bonn, onde permaneceu até 1969,
e na universidade de Münster [de 1963 a 1966].
Ratzinger perdeu seu pai em 1959. Quatro anos depois, sua mãe
também morreu.
Fama
Em 1966, já bastante conhecido, conseguiu uma cadeira em teologia
dogmática na universidade de Tübingen, onde sua indicação foi
fortemente apoiada e defendida pelo teólogo suíço Hans Küng (que
questiona a autoridade papal). Ratzinger continuava convicto sobre sua
visão tradicionalista apesar da atmosfera liberal de Tübingen, no
Estado de Baden-Württemberg, e da tendência marxista do movimento
estudantil nos anos 60.
Três anos mais tarde, ele retornou para a Baviera e foi para a
Universidade de Regensburg, onde foi professor de teologia dogmática e
de história do dogma, além de vice-presidente e reitor da
universidade. Posteriormente, transformou-se em conselheiro teológico
dos bispos alemães.
Em 1972, Ratzinger fundou o jornal trimestral teológico "Communio"
com os teólogos Hans Urs von Balthasar [suíço] e Henri de Lubac
(1896-1991, francês), entre outros. "Communio", agora publicado em
alemão, inglês e espanhol, tornou-se um dos mais importantes jornais
do pensamento católico.
Cinco anos depois, em março de 1977, Paulo 6º elegeu Ratzinger
arcebispo de Munique e Freising e, em maio, foi consagrado o primeiro
padre diocesano a conquistar o Ministério Pastoral da Grande Diocese
da Baviera.
O papa Paulo 6º também nomeou Ratzinger cardeal no consistório
(assembléia de cardeais presidida pelo sumo pontífice), em 27 de junho
de 1977. Depois disso, ele tornou-se bispo de Velletri-Segni e Ostia,
que tradicionalmente é a "ante-sala" para o trono do papado.
Em 25 de novembro de 1981, o papa João Paulo 2º nomeou Ratzinger
encarregado da Congregação para a Doutrina da Fé, anteriormente
conhecida como Tribunal da Santa Inquisição (renomeado em 1908 pelo
papa Pio 10º). Ele também presidiu as comissões bíblica e pontifícia
internacional teológica.
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