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O outro Da Vinci

20/01/2006
 

Parafuso aéreo e para-quedas inventados por Da Vinci

Mostra no Arte Sesc expõe faceta menos conhecida do artista

Rodrigo Aör

   Na definição do dicionário Aurélio, ''gênio'' é o adjetivo apropriado para descrever pessoas com ''altíssimo grau, ou o mais alto, de capacidade mental criadora, em qualquer sentido''. Poucos homens na história da humanidade podem ser assim. Leonardo Da Vinci, um dos ícones da Renascença, é um deles. Neste caso, no entanto, a definição mais correta seria concluída pela expressão ''em todos os sentidos''. Não bastasse ter pintado o quadro mais conhecido do mundo, a Monalisa, e o mais reproduzido da história da arte, A última ceia, ele desenvolveu habilidades notáveis na música, no teatro e na literatura, bem como importantes estudos em engenharia, arquitetura, anatomia, astronomia e matemática. Menos conhecida do público em geral, esta última faceta de Leonardo, de cientista e inventor, estará em foco na exposição Por dentro da mente de Leonardo Da Vinci, que será inaugurada quarta-feira, no Arte Sesc, no Flamengo.

   A mostra, que acaba de passar dois meses em exibição em São Paulo, traz 40 modelos artesanais dos inúmeros inventos do artista, como um de planador de seis metros de largura, um carro de guerra, ogivas e uma máquina de levantar peso, e uma hélice em parafuso, que deram origem, mais tarde, ao planador, ao tanque de guerra, a balas e mísseis, ao macaco hidráulico e ao helicóptero.

   - Muita gente não sabe que diversos objetos e máquinas usados hoje no dia-a-dia são frutos da mente de Leonardo Da Vinci - afirma o italiano Diego D'Ermoggine, diretor de relações internacionais da ONG Museu a Céu Aberto, que organiza a exposição em parceria com a Casa Brasil e apoio do JB.

   Os objetos foram desenhados por Da Vinci entre o final do século 15 e o início do século 16 em cadernos que recebiam nomes como Código Atlântico, Código Madri 1 e Manuscrito B e que hoje fazem parte de acervos de bibliotecas, museus ou de colecionadores como Bill Gates, fundador da Microsoft. Muitos dos inventos não chegaram a ser construídos pelo artista, o que ocorreria centenas de anos depois e exatamente da forma como ele havia imaginado, provando seu enorme talento também para as ciências, disputado por nobres e governantes de seu período.

   - A idéia é tornar realidade os sonhos de Leonardo, que não saíram do papel. Por ele não ter concretizado a maior parte dos projetos, demos este título. Como esse cara podia imaginar coisas que surgiriam 300 anos depois? - pergunta Diego.

   A questão também chama a atenção de Ildeu de Castro Moreira, professor do Instituto de Física da UFRJ e diretor da Secretaria de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia.

   - Os inventos de Leonardo Da Vinci são muito imaginativos. Pode-se dizer que são previsões geniais de máquinas que, na época, não tinham como ser realizadas - diz Ildeu, lembrando que, embora tivesse atitude de cientista, Da Vinci, contemporâneo ao surgimento da ciência moderna, ainda não havia incorporado os processos de experimentação sistemática que norteiam o campo de conhecimento até hoje.

   Nada que diminua seus méritos, ressalta o físico:

   - Ele conjuga mecânica e sensibilidade artística de forma muito interessante. Era uma mistura de artista, engenheiro e cientista. Isso não acontece mais devido à enorme expansão do conhecimento humano. Não há como um indivíduo reunir tanto conhecimento - analisa, ressaltando que os equipamentos projetados usam sempre como força-motriz a natureza ou o homem já que não havia, na época, outras fontes de energia.

   Os modelos expostos no Arte Sesc estarão divididos em quatro módulos: vôo, hidráulica, mecânica e guerra. Eles são o resultado de um hobby iniciado há aproximadamente 150 anos e transmitido através de gerações por duas famílias de artesãos de Florença, onde o artista viveu durante muito tempo. Através dos anos, as peças foram aperfeiçoadas pelos descendentes destas famílias, sem que perdessem as características do projeto original. Esta fidelidade é levada às últimas consequências. Na produção dos protótipos, são usados apenas materiais - madeira, ferro e juta, por exemplo - e ferramentas disponíveis no período em que Da Vinci viveu. Na mostra, eles serão exibidos junto com cópias dos desenhos originais.

   - Os desenhos, por vezes, são pequenos, de cerca de três centímetros, e aparecem nos cantos das folhas de papel, em meio a anotações diversas. Eles ajudam a entender um pouco da cabeça do autor - justifica Diego.

   Haverá ainda textos explicativos com informações históricas e técnicas voltadas tanto para leigos quanto para especialistas. Para quebrar um possível estranhamento inicial, dado o visual esquisito dos protótipos, o público poderá também interagir com alguns deles, entre os quais o que deu origem ao macaco hidráulico e o mecanismo de pesos e contrapesos, cuja lógica é a mesma dos modernos elevadores.

   - É a primeira vez que esta exposição sai da Europa com esta dimensão e neste formato. Quem quiser, poderá brincar com alguns dos equipamentos - conta o diretor do Museu a Céu Aberto.

Por DENTRO DA MENTE DE LEONARDO DA VINCI-Arte Sesc, Rua Marquês de Abrantes, 99, Flamengo (3138-1343). 3ª a sáb., do meio-dia às 20h; dom., das 11h às 17h. Visitas guiadas podem ser agendadas por telefone. Grátis. Abertura na quarta-feira. Até 23 de março.  

(© JB Online)


Biografia

   Leonardo Da Vinci não era apenas uma mente brilhante; era também um rostinho bonito. Louro, forte e dono de olhos azuis, especula-se que tenha sido o modelo de Davi, escultura de Verrocchio, seu mestre em Florença que, superado pelo pupilo, tomou desgosto pela pintura. Nasceu no dia 15 de abril de 1452, em Anchiano, perto de Vinci, entre Florença e Piza. Filho do tabelião Piero, que se recusou a dar-lhe seu sobrenome, passou a ser chamado pelo nome da localidade.

   Aos 16 anos, já desenhava e pintava. O batismo de Cristo, de Verrocchio, foi seu primeiro trabalho importante como aprendiz. Interessava-se por inúmeros assuntos, dedicando-se simultaneamente a vários projetos que, não raro, deixava inacabados. Seus desenhos de anatomia eram considerados melhores que os de Vesalius, grande anatomista do Renascimento. Em 1482, seguiu para Milão, para prestar serviços ao Conde Sforza. Ficou na cidade até 1499 para projetar sua catedral. Acabou projetando uma rede de canais e um vasto sistema de abastecimento de água.

   Nas horas de folga, supervisionava peças teatrais, organizava festas e sessões de música. Em 1503, começou a pintar a Monalisa. Para fugir da inquisição, escrevia de forma que a leitura só fosse possível com a ajuda de espelho. Em 2 de maio de 1519, já na França, morre nos braços do Rei Francisco I.

(© JB Online)


Protótipos

   Inclinômetro – O instrumento serviria para medir a inclinação de um plano. Para isso, o inventor imaginou um pêndulo sustentado por quatro hastes sobre uma base circular. Colocado sobre o plano, o pêndulo se deslocaria devido à massa do objeto em sua extremidade, mantendo-se sempre perpendicular à superfície terrestre. Assim, formaria um ângulo em relação à base a partir do qual a inclinação poderia ser medida. Material – O objeto seria feito em madeira e um fio.

   Embarcação de casco duplo – Trata-se de um mecanismo de defesa contra ataques ao casco dos navios de guerra. Caso a embarcação fosse atingida na lateral, estaria a salvo de afundar pois a água invadiria apenas aquele flanco. O princípio é semelhante ao das câmaras estanques encontradas nos navios modernos. O projeto faz parte dos chamados Manuscritos B. Material – Duas paredes de madeira dividiriam o espaço no interior do casco do navio em três.

   Broca vertical – É um dos instrumentos projetados por Leonardo Da Vinci cujos princípios são os mesmos usados até hoje em mecanismos elaborados para exercer a mesma função. Ela foi imaginada para facilitar o trabalho de perfuração profunda do solo com base em um sistema hidráulico acionado por dois homens. De acordo com a profundidade a ser perfurada, seriam encaixadas estacas à sua ponta. Material – Madeira e ferro.

   Estudo de asa unida – Baseado nas observações que fizera das asas dos morcegos, Da Vinci desenvolve o estudo da asa unida e decide aplicar o conceito em todas as máquinas que projetara para voar. Este estudo faz parte dos originais incluídos no Código Atlântico. Material – A asa seria construída com um único tecido, esticado sobre uma armação de madeira e juncos.

   Pára-quedas – O estudo do pára-quedas faz parte do Código Atlântico, no qual se encontram diversos inventos pensados para que o homem conseguisse voar. Da Vinci imaginava que, com este aparelho, uma pessoa poderia se atirar de qualquer altura sem correr risco. Material – Segundo Leonardo Da Vinci, deveria ser construído em formato de pirâmide, com cada lado medindo sete metros, e com telas de linho sustentadas por uma estrutura de madeira.

   Parafuso aéreo – É um dos projetos mais famosos de Leonardo Da Vinci. Segundo o idealizador, seria necessária a força de quatro homens para girar a peça sobre seu próprio eixo, de forma que perfurasse o ar para nele se sustentar, levantando vôo. O desenho da engenhoca está no Manuscrito B e pode-se dizer que ela é o ancestral do helicóptero. Material – Seria feito com varas de madeira, tela de linho e fios de ferro em formato de parafuso.

   Aparelho para caminhar sobre a água – O pintor foi um dos muitos homens da época que estudaram uma maneira de andar sobre lagos e oceanos com a ajuda de instrumentos. O movimento seria semelhante ao feito para deslizar sobre esquis na neve. O invento aparece no Código Atlântico. Material – O autor construiria os instrumentos com madeira. Duas próteses em formato de casco de barco seriam encaixadas nos pés e dois bastões, usados com as mãos para impulsionar o corpo.

   Planador – O planador imaginado por Leonardo Da Vinci é o precursor da asa-delta. Desenhado a partir da observação do vôo dos pássaros, as asas são fixas na parte interna e móveis nas extremidades, de forma que o piloto pudesse movimentá-las para cima e para baixo com a ajuda de um mecanismo de cabos e alavancas. O estudo é mais um que faz parte do Código Atlântico. Material – O planador consistiria num pano esticado sobre uma armação maleável de madeira.

   Mecanismo helicoidal – Concebida para erguer objetos pesados, a engrenagem é usada até hoje em fábricas tal qual foi desenhada por Leonardo Da Vinci por ser mais segura e resistente que máquinas similares. Por isso, se diferencia das outras peças, aperfeiçoadas ao longo da história. O mecanismo é acionado manualmente através de manivela, que gira uma roda dentada ligada ao objeto por um cabo. Faz parte do Código Madri 1. Material – Seria feita com madeira e um cabo de ferro.

   Carro ceifador – Uma das máquinas de guerra projetadas por Leonardo Da Vinci, o carro seria puxado por cavalos e teria foices giratórias nas laterais para atingir o inimigo. O mecanismo seria acionado pelo giro das rodas à medida que o cavalo se movimentasse. A idéia não é totalmente original. Carro semelhante já havia sido desenvolvido pelos romanos. Material – O equipamento seria fabricado com madeira, foices de ferro e cordas.

(© JB Online)

Para saber mais sobre este assunto (arquivo ItaliaOggi):

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