Médico italiano defende a prática de exercícios leves e o uso de antioxidantes para tratar problema que atormenta mulheres

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

   Não adianta ficar horas levantando peso se o objetivo for acabar com a celulite. Exercícios pesados, como a musculação, levam ao acúmulo de ácido láctico e outras toxinas na musculatura e no tecido cutâneo e podem agravar o quadro desse tipo de gordura localizado nas nádegas e nas coxas.

   É o que defende o cirurgião plástico italiano Marco Gasparotti, especializado no tratamento da celulite, que esteve no Brasil há uma semana participando de um simpósio internacional de cirurgia plástica e mostrou estudos que corroboram a sua tese.

   Na sua clínica, em Roma, Gasparotti trata a celulite de forma multidisciplinar. A mulher que chega se queixando do problema é orientada a mudar a alimentação, especialmente cortar açúcares e gordura da dieta, recebe um tratamento com cápsulas de antioxidantes e a recomendação de micromassagens feitas por meio de uma espécie de meia-calça, de náilon, usada diariamente. Só em último caso enfrenta o bisturi.

   "Se não cuidar do metabolismo, a celulite volta", afirmou em entrevista exclusiva à Folha. O médico também é criador de uma nova técnica cirúrgica que possibilita o tratamento da celulite avançada sem tanto risco de hemorragias ou aparecimento de manchas.

   Na avaliação do cirurgião plástico Carlos Oscar Uebel, professor da PUC de Porto Alegre (RS), o conceito de tratar a celulite, de forma multidisciplinar, ganhará adeptos no Brasil. "A aula dada por Gasparotti [durante o simpósio] foi muito convincente."

   A má-alimentação, rica em fast-food e refrigerantes, é a grande vilã da gordura localizada, segundo Uebel. "É cada vez mais comum observarmos meninas de 13, 14 anos cheias de celulite", diz. Além da mudança dos hábitos alimentares, ele defende que as mulheres optem por exercícios aeróbicos em vez da musculação.

   O médico Wilson Andreoni, da Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), afirma que a musculação feita sem preparo físico adequado provoca edema (inchaço), que gera a retração do tecido subcutâneo e alterações no metabolismo celular. Essas modificações poderiam piorar a celulite.

   "Uma alimentação equilibrada, o uso de antioxidantes e o equilíbrio hormonal devem preceder à cirurgia plástica. Não se pode tratar apenas da superfície", afirma.

   Já o cirurgião plástico Edwaldo Bolivar acredita que a musculação possa levar à celulite quando feita em excesso e sem orientação de um profissional. "Uma musculação leve e bem orientada não faz mal." Substâncias usadas para melhorar o desempenho físico nas academias também pode agravar a celulite, diz o médico.

   A exemplo de Gasparotti, Bolivar defende o conceito de tratamento multidisciplinar da celulite.

   "É preciso tratar a causa e não os efeitos." Ele acredita que o futuro será o cirurgião trabalhar em conjunto com profissionais de outras áreas, como os endocrinologistas e os nutricionistas.
Edwaldo Bolivar e Uebel aconselham a cirurgia plástica da celulite em casos em que o problema for "visível". A técnica mistura a lipoaspiração com lipoescultura e é feita com um instrumento criado especialmente para a intervenção, chamado de ring cânula (a ponta da cânula tem um formato anelado, daí o nome inglês ring, que em português significa anel).

   Depois de romper as fibras associadas à celulite e de aspirar a gordura da região, injeta-se novamente parte da gordura retirada para uniformizar a superfície da pele, acabando com os furinhos.

   Para Bolivar, a técnica deve ser associada a outros cuidados, como sessões de drenagem linfática (massagem que ajuda o organismo a eliminar as toxinas).

   A relações públicas Deise Lima, 31, fez a cirurgia há seis meses, juntamente com uma lipoaspiração de abdome, e aprovou. Ela afirma que se incomodava muito com a celulite que tinha nas coxas. "Já não usava mais biquíni e nem shortinho", conta.

   Para Lima, além do bom resultado, a rápida recuperação a impressionou. "Não inchou e não ficou roxo", diz. Após a operação, ela iniciou drenagem linfática e uma dieta em que perdeu nove quilos. Porém, ainda não conseguiu iniciar os exercícios físicos.

(© Folha de S. Paulo)

Água elimina toxinas dos rins e reduz problema

DA REPORTAGEM LOCAL

   Os médicos são unânimes em recomendar a redução da gordura da dieta como forma de prevenir ou reduzir a celulite. Ela aumenta as células do tecido adiposo.

   As frutas frescas, os legumes e as verduras, as fibras e os minerais provocam uma diminuição da absorção de gordura dos alimentos, controlam a regeneração de tecidos, o que tonifica a pele.

   A ingestão de dois litros de água por dia ajuda na eliminação de toxinas pelos rins, o que melhora a celulite. Devem ser evitados chá preto, mate, café e álcool, alimentos enlatados e salgados.

(© Folha de S. Paulo)

Para médico italiano, cirurgiões plásticos "drogam" as pessoas

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir trechos da entrevista do cirurgião plástico Marco Gasparotti, membro da Sociedade Italiana de Cirurgia Plástica. (CC)
 

Folha - No Brasil, a celulite é vista como a pior inimiga da mulher. Acontece o mesmo na Itália ou em outros países da Europa?
Marco Gasparotti - A pior inimiga da mulher é a melhor amiga dela (risos). Sim, a celulite incomoda as mulheres em qualquer lugar do mundo. As pessoas têm que entender que a celulite é um problema metabólico, que pode ser melhorado muito com uma alimentação rica em proteínas. A celulite é um problema de oxidação das membranas celulares. Quanto maior a ingestão de carboidratos e a prática de ginástica pesada, pior fica a celulite.
 

Folha - O sr. quer dizer que fazer ginástica aumenta a celulite?
Gasparotti - Sim. Neste país [Brasil], as pessoas fazem muita ginástica pesada [musculação] todos os dias. O estresse metabólico é forte e vai aumentar a celulite. A mulher precisa estar com os seus hormônios em equilíbrio, ter uma alimentação balanceada e praticar exercícios moderados.
 

Folha - Cremes não resolvem?
Gasparotti - Os creminhos melhoram no momento, mas depois a celulite volta. Por isso defendemos um tratamento à base de antioxidantes, que melhora o sistema vascular e as trocas celulares, e uma alimentação adequada. A cirurgia é indicada para estágios mais avançados. Ela melhora bastante a aparência da pele. Mas, inicialmente, o tratamento da celulite é médico, não cirúrgico.
 

Folha - Temos hoje uma cultura da cirurgia plástica no Brasil. Isso não é perigoso, especialmente para as mulheres muito jovens?
Gasparotti - Cirurgia plástica é uma droga. E nós, cirurgiões, involuntariamente, estamos drogando as pessoas. Temos que ter muito cuidado em ministrar essa droga, que tem ser dada em pequenas doses. 80% da celulite podem ser melhoradas com alimentação e tratamentos antioxidantes. Mas é mais fácil para a paciente fazer lipo. E lipo é para gordura localizada, não serve para celulite.
 

Folha - Mas não é arriscado operar mulheres tão jovens?
Gasparotti - A culpa é da mídia. Ela mostra modelos de 16 anos, atrizes de 18 anos riquíssimas, lindíssimas. E as mulheres começam a pensar que o sucesso passa pela cirurgia plástica. Parece que não existe sucesso por causa da inteligência ou da capacidade profissional, só pela beleza. Para elas, sucesso é igual a cirurgia plástica.
 

Folha - O médico não deve ter um papel ético e triar os casos?
Gasparotti - O médico sério só opera 20% das pacientes que o procuram. Tem que separar as deprimidas, as solteiras ou divorciadas que só querem encontrarem um parceiro. Elas não ficarão felizes se, após a cirurgia, não encontrar um novo namorado.
 

Folha - Essa grande procura pelas plásticas é um fenômeno mundial?
Gasparotti - Sim. Na Itália atendemos muitas mulheres dos Emirados Árabes, que vivem cobertas a vida toda, que se descobrem apenas para o marido e que são loucas para fazer lipo e mama.

(© Folha de S. Paulo)