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Giuliana Sgrena |
Globo Online
Agências Internacionais
ROMA - Uma ação militar aparentemente desastrada interrompeu de forma
dramática o que parecia ser um final feliz para um dos mais notórios
casos de seqüestro de estrangeiros no Iraque pós-Saddam Hussein. A
jornalista italiana Giuliana Sgrena, de 56 anos, repórter do jornal de
esquerda "Il Manifesto", foi libertada e, momentos depois, baleada,
quando rumava para o aeroporto de Bagdá. Um agente que a acompanhava
morreu. Os autores dos disparos: soldados americanos.
O Exército dos EUA justificou o erro afirmando que os soldados teriam
tentado "alertar" o veículo que transportava a jornalista italiana
Giuliana Sgrena, quando o carro se aproximava de um posto de comando no
oeste da capital iraquian. Mas o motorista não teria parado e por isso
os militares atiraram.
O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, um dos mais ferrenhos
aliados do presidente George W. Bush na invasão e ocupação do Iraque,
convocou o embaixador dos EUA a seu gabinete, para esclarecimentos. Ele
disse que alguém tem que ser responsabilizado pelo incidente.
- Estamos incrédulos e atônitos pela fatalidade e a alegria
transformou-se em dor - disse Barlusconi, numa reunião de emergência no
Palácio Chigi, sede do governo italiano.
Segundo os primeiros detalhes dados a conhecer pelo primeiro-ministro
Silvio Berlusconi, o agente morto era Nicola Calipari, pai de dois
filhos. Ele morreu tentando proteger a jornalista dos tiros.
- Forças multinacionais dispararam num veículo que se aproximava de um
posto de controle da coalizão em Bagdá em alta velocidade - confirmou o
porta-voz do Departamento de Defesa Bryan Whitman. - A jornalista
italiana recentemente libertada era uma ocupante de veículo e foi
aparentemente ferida. Apesar de os detalhes não seres claros neste
momento, parece que uma segunda pessoa no automóvel foi morta.
Sgrena estava sendo levada de carro por uma equipe do serviço secreto
italiano. Três agentes a acompanhavam. Em circunstâncias ainda pouco
claras, soldados do posto de controle americano na estrada que leva ao
aeroporto abriram fogo contra o veículo. Segundo a agência de notícias
italiana Ansa, Sgrena foi ferida no ombro, sem gravidade. Pelo menos um
outro agente teve ferimentos leves.
A repórter deve estar de volta a seu país no sábado. Mas a festa que
irrompeu na Itália quando a libertação foi anunciada ficou comprometida.
- Essa notícia que deveria ter sido um momento de celebração foi
arruinada por esse tiroteio - disse Gabriele Polo, editor do jornal "Il
Manifesto", lutando para conter as lágrimas. - Um agente italiano foi
morto por uma bala americana. Uma demonstração trágica, que nunca
desejamos, de que o que está acontecendo no Iraque é algo totalmente
louco e sem sentido.
Sgrena foi capturada no dia 4 de fevereiro, em Bagdá, por insurgentes
que exigiam a retirada de tropas italianos do Iraque. No dia 16, os
seqüestradores divulgaram um vídeo em que a jornalista fazia um apelo
pungente por sua libertação.
- Eu imploro: encerrem a ocupação. Eu imploro ao governo italiano e ao
povo italiano que pressione o governo a sair - disse Sgrena, com feição
abatida e as mãos juntas diante de si, como que fazendo uma prece.
Milhares de italianos atenderam ao apelo, marchando em Roma contra a
presença das tropas do país Iraque. Durante as quatro semanas de
seqüestro, houve várias manifestações pela libertação da jornalista.
A libertação, anunciada primeiro pela rede de TV árabe Al-Jazeera, foi
confirmado governo da Itália e pela direção do jornal "Il Manifesto". As
redes de TV interromperam a programação para dar a notícia, foi recebida
com euforia no país.
A libertação de Sgrena acende as esperanças de um desfecho feliz para o
seqüestro de outra jornalista no Iraque, a francesa Florence Aubenas.
Num vídeo divulgado na terça-feira, Aubenas reapareceu muito abatida,
dizendo estar mal física e psicologicamente e pedindo diretamente a um
parlamentar francês que atuasse por sua libertação.
Entre os estrangeiros atualmente dados como seqüestrados no Iraque
também está o engenheiro brasileiro João José Vasconcelos, capturado em
janeiro.
(©
Globo Online)
Giuliana Sgrena è libera, ucciso uno 007
La giornalista ferita a un check point Usa dopo
la liberazione, Nicola Calipari la salva ma muore. Gli Usa: "E' stato
un errore"
La
notizia attesa da un mese arriva via Al Jazira ì alle 18,30:
Giuliana Sgrena è libera. A un mese esatto dal sequestro, avvenuto il
4 febbraio, per la giornalista del Manifesto l'incubo è finito. Alla
gioia e al sollievo del primo momento, subentra poco dopo la
preoccupazione per le condizioni della reporter. Poi lo choc: l'auto
con a bordo la Sgrena e i tre 007 italiani che l'hanno liberata è
stata colpita da proiettili Usa a un posto di blocco vicino a Bagdad.
Un ufficiale,
Nicola Calipari, muore per salvare dai colpi la giornalista, altri
due restano feriti.
«C'è
poco da dire, Giuliana è stata quasi ammazzata dagli americani»
sono state le prime parole del compagno della giornalista, Pier
Scolari.
«FERITA MA STO BENE»- «Sono piena di fili e di tubi ma sto
bene»: così Giuliana Sgrena nelle prime parole, rivolte per telefono
al sottosegretario alla presidenza del Consiglio Gianni Letta. Lo ha
riferito alla sede del Manifesto Valentino Parlato, ex direttore della
testata, due ore dopo la dopo la liberazione. Giuliana, ricoverata
all’Ospedale americano di Bagdad, viene sottoposta a una piccola
operazione per rimuovere una scheggia dalla spalla.
BERLUSCONI: «QUALCUNO DOVRA' RISPONDERE» - Berlusconi ha
convocato l'ambasciatore Usa «dato che il fuoco è venuto da fonti
americane». Il premier ha confermato in una conferenza stampa che la
giornalista italiana Giuliana Sgrena era stata liberata ed era in
macchina con agenti italiani, uno dei quali è stato ucciso. Ha poi
aggiunto che qualcuno si deve assumere le proprie responsabilità di
questo incidente gravissimo».
GLI
USA: «UN ERRORE» - Dopo un'iniziale silenzio è infine giunta anche la
reazione americana.
Gli spari che hanno ucciso e ferito al posto di blocco
sono stati un errore. Il veicolo su cui viaggiava Giuliana Sgrena
insieme ai funzionari del Sismi, secondo il comando Usa,
«stava avvicinandosi ad alta velocità a un posto di blocco
delle forze della coalizione», quando uno dei militari ha aperto il
fuoco. «I militari americani hanno sempre il diritto all'autodifesa
quando si sentono minacciati», ha spiegato il sergente Don Dees, uno
dei portavoce del comando militare della forza multinazionale in Iraq.
La vettura stava procedendo verso la base militare americana nei
pressi dell'aeroporto internazionale di Baghdad.
Il
Dipartimento di Stato Usa ha espresso il proprio «rammarico»,
che è stato espresso con una telefonata all'ambasciata
d'Italia a Washington. Il Comando Usa ha aperto un'inchiesta
sull'accaduto, così come ha fatto, in Italia, procura di Roma.
NUOVO VIDEO - La notizia della liberazione è stata data per
prima dalla tv araba Al Jazira che ha anche trasmesso un nuovo video
in cui Giuliana Sgrena ha ringraziato i suoi rapitori per averla
trattata molto bene e ha detto che i suoi sequestratori sono
determinati a liberare il loro Paese dagli occupanti. Parole che
lasciano dedurre che il video sia stato girato a liberazione avvenuta,
o quantomeno decisa.
ESULTANO I FAMILIARI - Incontenibile la
gioia dei familiari. Ivan Sgrena, il fratello di Giuliana, ha
appreso la notizia da Sky. «Mi hanno telefonato, ha riferito, non so
cosa dire». Emozionatissimo, Ivan Sgrena, raggiunto telefonicamente
mentre era in auto e stava rientrando a casa». In giornata il padre
della giornalista si era detto ottimista e aveva raccontato:
ho sognato la sua liberazione.
GIOIA E SGOMENTO AL MANIFESTO - Un urlo liberatorio ha accolto
la notizia al Manifesto. Prima del grido solo qualche attimo di
indecisione, forse di incredulità. Il direttore del giornale, Gabriele
Polo, è uscito dalla sua stanza per controllare il sito di Al-Jazira
che riportava la notizia della liberazione della giornalista. Poi di
corsa verso Palazzo Chigi per avere la conferma ufficiale del governo.
Intanto al quotidiano esplodeva la festa, si aprivano bottiglie di
spumante, ci si abbracciava, ci si commuoveva. Poi, man mano che
arrivavano le notizie della sparatoria, l'umore è cambiato: «La gioia
per liberazione di Giuliana è stata molto attenuata da questo lutto.
Nicola Calipari è stato ucciso, Giuliana è rimasta ferita. Questa
liberazione è costata sangue e ci ha sbattuto in faccia la brutalità
della guerra in Iraq». Lo ha dichiarato il disegnatore del Manifesto,
Vauro, che ha aggiunto «La vignetta di sabato è una
colomba insanguinata».
Dopo la liberazione di Giuliana Sgrena l’unica
giornalista ancora in mano ai suoi sequestratori in Iraq è l’inviata
del quotidiano francese Liberation, Florence Aubenas.
(©
Corriere della Sera)
ANÁLISE
Despreparo e leviandade justificam incidentes
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O
episódio é bastante recente: Eason Jordan, um dos diretores da CNN, foi
obrigado a deixar seu cargo há menos de um mês, depois da divulgação de
uma ácida observação feita a portas fechadas durante o último Fórum
Econômico Mundial, na Suíça. Os soldados americanos no Iraque, ele teria
afirmado, deliberadamente atiram sobre jornalistas.
O
primeiro e mais estúpido dos episódios do gênero reforça essa possível
mistura de despreparo com leviandade. Foi quando, em 8 de abril de 2003,
um blindado americano, integrante da vanguarda que se apoderava de
Bagdá, disparou contra o Hotel Palestine, local em que os jornalistas se
hospedavam e mantinham aparelhos de transmissão.
Morreram dois cinegrafistas, José Couso, da TV espanhola Telecinco, e o
ucraniano Taras Protsyuk, da agência Reuters.
Dias antes, Terry Lloyd, da rede britânica ITV, morreu sob o fogo de
disparos americanos nas imediações de Basra.
Assim, o incidente ocorrido ontem, com o ferimento da refém italiana
Giuliana Sgrena, que acabava de ser libertada, não foi um caso em
absoluto isolado.
A
ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras documentou a morte de 33
jornalistas e 15 técnicos no Iraque desde o início da guerra. A maioria
foi vítima de insurgentes. Mas há casos obscuros, sobre os quais o
comando norte-americano nada apurou, ou, se o fez, não divulgou suas
investigações e tampouco se desculpou.
Um
exemplo. Dhia Najim era um câmera da Reuters. Foi morto em novembro do
ano passado em Ramadi. Um levantamento fotográfico do local levou a
agência britânica a dar crédito à hipótese de que Najim fora atingido
por atiradores americanos.
Um
outro cinegrafista da mesma agência, o palestino Dana Mazen, foi morto,
em agosto de 2003, quando filmava uma prisão em Bagdá. Os EUA disseram
que sua câmara foi confundida com um lançador de granadas.
Em
abril daquele ano um tradutor curdo a serviço da BBC morreu quando os
EUA bombardearam por equívoco o comboio em que ele viajava, no norte do
país.
Em
março de 2004, dois jornalistas da rede de TV Al Arabiya, Mazen al
Tomaizi e Ali Abdel Aziz, foram mortos dentro de uma perua Volvo que
trazia no teto e nos pára-brisas as letras "TV". Um helicóptero
americano disparou um míssil contra o veículo, que, por sua vez,
circulava com credenciais emitidas pelo comando dos Estados Unidos.
As
circunstâncias não são atenuantes. Se soldados americanos atiram
indistintamente é porque não têm uma idéia muito nítida de quem seja o
verdadeiro inimigo. Não se dão ao trabalho de verificar, com seus
binóculos, se o cidadão está com uma arma ou com uma máquina fotográfica
equipada de teleobjetiva.
A
confusão se acentua na medida em que os jornalistas do Oriente Médio têm
em geral uma estatura mais baixa e a pele mais escura que os
norte-americanos. Mas, se a escolha do alvo se dá por critério de
"biótipo", o que dizer dos civis desarmados que são também mortos por
engano? A mídia tem como alardear a morte acidental de seus enviados
especiais. Mas há, ao mesmo tempo, centenas ou milhares de pacíficos
iraquianos que jazem em suas sepulturas como vítimas anônimas.
(©
Folha de S. Paulo)
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