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Sofia Loren, na foto
com o ator Alberto Sordi |
"UM DIA MUITO
ESPECIAL"/"DESEJO"
Atriz brilha em obra-prima de Scola e em
um de seus primeiros trabalhos
NAIEF HADDAD
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
Depois
de acordar o marido e os seis filhos, vesti-los e preparar o café da
manhã, Antonietta se senta à mesa, diante da louça suja. Despeja o pouco
que restou de café de uma vasilha em outra e bebe lentamente. A câmera
se aproxima do seu rosto e vê cansaço, solidão, mas jamais deixa escapar
o encantamento.
Estamos diante de Sophia Loren, um dos ícones do cinema italiano, que
nos reencontra em dois lançamentos em DVD: "Um Dia Muito Especial"
(1977), de Ettore Scola, e "Desejo" (1958), de Delbert Mann.
A
cena acima é da obra-prima de Scola. Acontece logo no início do filme,
quando a dona-de-casa despacha a família para a festejada celebração
romana, em maio de 1938, em torno da visita de Hitler a Mussolini. A
partir daí, por conta da fuga de um pássaro, inicia-se a aproximação
entre Antonietta e o radialista gay Gabriele (Marcello Mastroianni),
vizinho de prédio. Os dois atores já haviam trabalhado juntos em filmes
como "Matrimônio à Italiana" (1964), de Vittorio de Sica, e articulam
aqui um notável jogo de atração e repulsa, de cunho moral e,
principalmente, sexual.
Por conta do talento dos protagonistas e da orquestração delicada de
Scola, a intimidade e o cenário fascista (o rádio não deixa esquecer que
estamos em dia de festa do Duce) dialogam o tempo todo. A combinação do
rigor político do período e da alma insondável dos personagens revela
mundos em faísca permanente.
Scola costuma ser relegado a uma espécie de segundo escalão do cinema
italiano, abaixo da geração que o antecedeu -Visconti, Antonioni,
Fellini. Em "Um Dia Muito Especial", ele se equipara aos mestres.
Há
bons extras: entrevistas com Scola, o roteirista Maurizio Costanzo, o
autor da trilha sonora, Armando Trovajoli, e outros homens de cinema,
orgulhosos do que o filme representou. Outra passagem evidencia o
cuidadoso processo de restauração do filme.
Está lá, em outros extras (filmografia e biografia), a lembrança de um
dos primeiros trabalhos de Sophia Loren nos EUA, 19 anos antes de "Um
Dia...". É "Desejo", que também chega às lojas.
Baseado em texto de Eugene O'Neill, mostra a paixão de um filho de
fazendeiro (Anthony Perkins) pela jovem madrasta (Sophia Loren),
enquanto segue de olho firme nas terras que pode herdar. O diretor
Delbert Mann erra na condução dos jovens atores, deixando-os, via de
regra, um tom acima do desejável. O desfecho trágico, de qualquer modo,
vale o filme.
Em
"Desejo", Loren desperta a atenção, bela como poucas. Mas quem a viu, à
época, não deve ter imaginado uma grande promessa dramática. "Um Dia
Muito Especial" não deixa dúvida: a atriz virou mito.
Um Dia Muito Especial
Direção: Ettore Scola
Distribuidora: Versátil, R$ 45, em média
Desejo
Direção: Delbert Mann
Distribuidora: Paramount, R$ 35, em média
(© Folha de S. Paulo) |