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Cena de Teorema,
que reestréia com cópia nova |
O
filme de Pier Paolo Pasolini provocou muita polêmica quando foi
lançado, em 1968, ao mostrar estranho que transforma burgueses
Luiz
Zanin Oricchio
São Paulo -
Teorema,
filme de 1968 do cineasta Pier Paolo Pasolini, reestréia no Cinesesc com
cópia nova. O filme provocou muita polêmica quando foi lançado. A
história, em si, parecia sacrílega porque imitava a Anunciação católica.
Um carteiro avisa uma família rica que ela receberá a visita de um
estranho. Ele chega, na figura de bela estampa (estamos falando dos anos
60) de Terence Stamp. O estranho transa com todos da casa. A mulher, o
marido, o filho, a filha, a empregada.
Todos, depois de se relacionarem com ele, mudam de vida. O marido
abandona sua empresa e vai para um deserto. A mulher dá vazão a uma
sexualidade havia muito reprimida e torna-se cliente de garotos de
programa. O filho passa a dedicar-se às artes mas não consegue produzir
nada que faça sentido. A filha torna-se muda. E a empregada (Laura
Betti) volta para seu vilarejo e é tida como santa milagrosa. Depois da
visita do estranho não sobra pedra sobre pedra da família burguesa.
Apenas a doméstica, como representante do povo, é capaz de redenção.
Ah, mas se o filme se enunciasse com essa simplicidade que o resume numa
sinopse, certamente não teria sido premiado pelo Ocic (Office Catholique
Internationale du Cinéma), o órgão católico que premia o cinema. Essa
premiação apenas acrescentou uma dose extra de escândalo ao filme.
Afinal, Pasolini, notório marxista, era também cristão. Vale dizer que
sensibilizava setores da Igreja progressistas.
Ao
invés de propor um desencantamento do mundo, ele ia atrás da dimensão do
sagrado no ser humano. Esse mundo seco da racionalidade era o que menos
o interessava. Daí o desespero dos seus personagens quando despidos da
sua segurança burguesa e sem ter mais nada a que se apegar depois da
passagem daquele curioso anjo exterminador.
(©
estadao.com.br)
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