Descubra o mundo do rosé e
saiba porque esse vinho badalado na França harmoniza muito bem com o nosso clima
tropical
por Luiz Gastão Bolonhez
Há muitos anos persigo a história real dos
vinhos rosé. E assisto com satisfação a força que a mídia internacional começa a
depositar nesse importante vinho, que para a fortuna dos amantes do pink chega
em boa hora. A história real do rosé tem como marco de iniciação a Provence, na
França. Qualquer apreciador de vinhos do planeta que tiver a oportunidade de ir
a essa região vai mudar seus conceitos e considerar o rosé um vinho alternativo,
com lugar garantido à mesa. A capital das flores da terra de Asterix, Nice, tem
entre seus atrativos uma bela culinária baseada em frutos do mar e faz qualquer
enófilo se apaixonar pelo vinho rosé. Tanto na "Old Nice" quanto na parte
moderna, seja no almoço ou no jantar, em dias de verão e primavera, a
predominância é de vinhos rosés nas mesas de restaurantes, bistrôs e bares.
O rosé é um vinho produzido por meio da
maceração de uvas tintas que permanecem menos tempo em contato com as cascas.
Sua produção tem como berço mundial essa maravilhosa região francesa que encanta
o mundo com suas belas praias e seu glamour. Mas não é só na Provence que esses
vinhos têm espaço; em países europeus como Itália, Portugal e Espanha, os
rosados ou rosatos também têm importância. Esse estilo de vinho também
pode ser produzido a partir do blendde tintos com brancos, mas essa
produção é menos apropriada e proibida na França, em todas as regiões onde o
rose é produzido. As mais destacadas ficam ao sul do Vale do Rio Rhône e na
Provence. Podemos encontrar ótimos rosés da apelação controlada (AOC) em Cotes
de Rhône, principalmente de Tavel, uma apelação controlada dedicada aos rosés.
Na Provence, temos, além dos mais cobiçados Rosés da Côtes de Provence, os
deliciosos Bandol nas cercanias da belíssima Toulon.
Ainda na França, o Languedoc Roussilon vem
despontando na produção de deliciosos rosés a excelentes preços. De todo o
Languedoc, Minervois é a região que mais coloca no mercado rosés de qualidade.
Em todas essas regiões ao sul da França, as uvas que têm destaque são a Grenache
(a mais importante de todas), a Cinsault e a Mourvedre.
Podemos encontrar bons vinhos rosés em Bordeaux
e no vale do Loire. Nessas regiões, as uvas mais utilizadas são os Cabernets
(Sauvignon e Franc) e a Merlot. Mais raros e de excelente qualidade são os
pouquíssimos rosés da Borgonha, produzidos a partir da Pinot Noir.
Na Itália, o vinho rosé está consagrado e tem
seu lugar garantido na tavola. A produção de rosés é forte no sul da
bota, mas quando falamos de qualidade três regiões devem ser destacadas na
produção de rosés de qualidade. A Toscana vem produzindo a cada dia melhores
vinhos rosados a partir Sangiovese. A região do Lago de Garda tem na uva
Gropello um ícone para produção de rosés especiais. Por último, no norte da
Itália, mais especificamente no Alto Ádige, há excelentes rosés à base das uvas
locais Moscato Rosa e Lagrein.
Em Portugal, os rosés deliciosos estão por toda
a parte. Os destaques são os rosados do Douro, Estremadura e Ribatejo. Foi dessa
última região que veio o melhor rosé de nosso painel, principalmente em relação
à complexidade aromática. Normalmente os rosés apresentam pouca intensidade
aromática, o que, aliás, faz com que seja mais fácil apreciá-los gelados e sem
muito compromisso. Em relação à variedade de uvas utilizadas nos vinhos rosados
portugueses encontram-se muitos à base de blends, bem como varietais de
Touriga Nacional, por exemplo.
Na Espanha, os rosados são quase uma religião.
Talvez o país tenha sido o que menos sofreu com o preconceito do rosé. O consumo
deste vinho sempre esteve em alta. As regiões de destaque são Rioja, Navarra e
Penèdes. Assim como na França, quem comanda por aqui é a Garnacha (nome da
Grenache na Espanha), seguida das Tempranillo e Merlot.
Os nossos vizinhos, Chile e Argentina, produzem
cada vez mais rosés à base de vários tipos de uvas, tais como Cabernet Sauvignon
e Malbec. Normalmente, esses vinhos são de cor e corpo mais intensos se
compararmos aos delicados vinhos da França. Para quem quer tentar um rosado mais
intenso, o negócio é ficar com os vinhos do Mercosul, pois alguns deles lembram
mais um vinho tinto do que propriamente um rosé.
Poucos sabem, mas na década de 50 do século
passado, o vinho mais apreciado pelos franceses era o rosé. Vocês podem imaginar
isso? Pois bem, é a pura verdade. O escritor inglês P. Morton Shand, em seu
livro A Book of French Wines (1960), relata que acompanhou várias
pessoas, durante o outono francês de 1957, em eventos como almoços e jantares.
Ele concluiu que "homens sós ou com acompanhante demandavam vinhos rosés mais
freqüentemente que tintos e as mulheres sempre escolhiam vinhos rosés ao invés
de brancos".
No final do século, o rosé havia perdido seu
lugar ao sol. Em julho de 1997, a revista americana Wine Spectator publicou uma
pesquisa com a seguinte pergunta: "Quantas garrafas de vinho rosé você abriu
nesse ano?" A resposta foi: 73,6% dos pesquisados respondeu zero; 19,5% abriu
uma garrafa, 2,3%, de 2 a 5 garrafas. A conclusão é simples e imediata: menos de
30% dos entrevistados havia aberto pelo menos uma garrafa de rosé no ano. Hoje,
se fizéssemos a mesma pesquisa no Brasil, seguramente os números não estariam
longe dos resultados norte-americanos há dez anos.
Puro preconceito. O rosé tem um belo espaço na
mesa de qualquer apreciador de vinhos no mundo e deveria ter maior aceitação no
Brasil, se considerarmos o clima que, sem dúvida, propicia melhores condições
para o consumo. Ele seria uma bela opção para aqueles enófilos que só gostam de
vinho tinto e acham que o vinho branco não tem espaço. A maioria dos rosés
apresenta, como alguns tintos, boa intensidade de frutas vermelhas e um corpo
mediano que harmoniza com uma grande gama de pratos. Ainda tem a vantagem de não
se sobrepor à comida, o que acontece com os ultraencorpados vinhos tintos que
têm ganhado destaque nos últimos tempos.
Um rosé de boa procedência é agradável, leve e
possui boa intensidade, ideal para pratos mais suaves. Pode ser uma grande
companhia para um churrasco de carne ou de peixe, para um picnic, ou até mesmo
para apreciar uma bela praia acompanhado de alguns petiscos. Se você ainda não
provou uma bouillabaisse, uma paella valenciana, uma caldeirada e um
arroz à marinera com um rosado, não sabe o que está perdendo.
O importante, para os mais aficionados por
vinho, é ter a consciência de que o rosé é, em algumas situações, uma
alternativa para brancos e tintos e, para alegria de muitos, é um vinho fácil de
se gostar. É descomplicado até no preço, já que é difícil encontrar um rosé de
mais de U$$ 40 a garrafa, ou mesmo com mais de 90 pontos na tabela do crítico
Robert Parker. A mais importante dica é que os vinhos rosés devem ser degustados
jovens. De preferência, com um ou dois anos no máximo, pois não são vinhos de
guarda.
Nós, da Revista ADEGA, tivemos a oportunidade
de degustar mais de 30 vinhos rosés disponíveis nas principais importadoras.
Essa degustação foi realizada às cegas acompanhada por uma bela sopa de peixes
(seguimos a receita da bouilabaisse francês). A combinação é sublime.
Os nove vinhos rosés selecionados em nossa
degustação e comentados estão destacados em rosa na seção Cave dessa edição.
Estejam certos que comida leve e boa (principalmente no almoço), sol e vinho
rosé combinam muito bem. Esse verão promete. Principalmente se estiver tingido
de rosa.