O chef inglês Jamie Oliver
mostra todo o seu entusiasmo pela gastronomia da Itália no
recém-lançado no Brasil ‘A Itália de Jamie’. Nesta entrevista,
ele conta como foi a viagem e quais as descobertas no país que
gostaria que fosse sua terra natal
Rita Loiola
Jamie
Oliver nasceu no lugar errado. 'Eu deveria ser um maldito
italiano', diz ele no prefácio de seu livro A Itália de Jamie,
lançamento da editora Globo que está chegando
às livrarias. Para falar um pouco mais da gastronomia da Itália,
o chef concedeu esta entrevista ao Paladar, por e-mail. Com todo
o respeito às suas origens britânicas de Southend-on-Sea, claro.
Você escreveu o livro pensando nos fãs televisivos ou nos que
gostam dos clássicos italianos?
Escrevi o livro para qualquer um que ame a comida italiana. Há
receitas clássicas, bem como algumas criadas na Itália.
Qual foi o maior segredo que você aprendeu com os italianos?
Não chega a ser um segredo, mas estava intrigado sobre a relação
dos italianos com a carne e o abate. Quando passei mais tempo
com os caçadores, vi que eles têm uma relação pura com os
animais. Mesmo as crianças sabem que os bichos são comida, mas
têm consciência de que, enquanto vivos, devem ser bem tratados.
É um mundo diferente das fazendas de abate.
Suas receitas estão muito relacionadas ao que chamam na
Espanha de 'cocina de produto', trabalhando com ingredientes
bons e frescos. Mesmo em um país com tantos congelados como o
Brasil, é possível obter bons resultados?
Sempre prefiro o ingrediente fresco, mas é possível ter boas
alternativas de congelados. Muitas de minhas receitas, não só
deste livro, são bastante simples, mesmo com poucos produtos
disponíveis.
Quais foram as críticas que os italianos fizeram à sua
comida?
Não houve críticas negativas, apesar de algumas pessoas no
mercado da Sicília ficarem confusas. Os melhores comentários
foram os do final, quando cozinhei para todos que encontrei na
viagem. Mesmo quem tinha receio da minha comida adorou a
refeição.
Você descobriu novos pratos?
Um monte. O risoto com couve-flor foi uma surpresa emocionante e
a ricota frita é brilhante. Tente fazer em casa.
Como os italianos o receberam?
Foram muito amigáveis, apesar de eu precisar provar que podia
cozinhar para um ou dois! Alguns me ensinaram e fiquei feliz em
aprender. Esse era um dos propósitos da viagem. Por outro lado,
algumas pessoas, como os monges, precisaram de uma mãozinha.
Qual seria o menu perfeito do livro, com seus pratos
favoritos?
Talvez começar com a pappa ao pomodoro, uma deliciosa sopa
toscana de tomate e pães para aguçar o paladar. Depois,
costeletas de porco (costoletti di maiale con salvia) e, para
terminar, algo belo e fresco, como morangos (fragole con limone
e menta).
Quais seus autores preferidos na gastronomia italiana?
Amo os livros de Gennaro Contaldo, um colega. E Marcela Hazan,
claro.
Quem é o grande chefe desconhecido da Inglaterra?
Aaron Craze, formado pelo Fifteen London (restaurante de Oliver
que ensina jovens de baixa renda a ser chef), que tem um bar
fantásico em Essex (site).
Existe rivalidade entre os chefs-celebridade britânicos, como
você, Gordon Ramsay e Heston Blumenthal?
Ha ha. Gordon e eu nos damos bem. Não conheço Heston muito bem,
mas ele é um chef genial e um cavalheiro.
Você tem planos de vir ao Brasil?
Infelizmente não, mas espero não demorar para ir e conhecer todo
mundo.
120 receitas que dão fome
A Itália de Jamie (Ed. Globo, 320 págs, R$ 71) é o sexto livro
do cozinheiro (ele já tem oito). Foi lançado na Grã-Bretanha em
2005 e chega agora ao mercado brasileiro - a série de TV que o
originou, Jamie’s Great Escape, está sendo exibida pelo GNT. Mas
nem por isso trata-se de um livro defasado. As receitas
coletadas pelo mestre-cuca-pop-star são em geral muito atraentes
e transmitem o entusiasmo típico do Oliver não só em cozinhar,
mas em comer. São 120 opções, entre antepastos, comida de rua,
primeiros e segundos pratos, acompanhamentos e doces. Há desde
polenta frita com alecrim a cozido de faisão; de crostini a
pasta artesanal. Um aspecto que fica evidente em especial no
capítulo de peixes e frutos do mar é a escolha pela
simplicidade, valorizando o elemento principal da receita. É
quase uma proposta de culinária de produto, partindo de insumos
frescos e de qualidade. O livro talvez só peque na explicação
por vezes pouco clara de certos procedimentos, como a
manipulação de algumas massas - o que pode acabar tornando a
descrição mais compreensível para iniciados.
(©
Agência Estado)